Primeira mulher a presidir nacionalmente o Partido dos Trabalhadores, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), que se prepara para passar o bastão e assumir um cargo relevante no governo Lula, foi figura de destaque nas comemorações dos 45 anos da legenda no Rio de Janeiro e foi ovacionada quando mencionou a capacidade de resistência da militância, bem como o engajamento em defesa de Lula e do legado do partido. “Só foi possível chegarmos até aqui porque tínhamos vocês. Ninguém baixou a cabeça. Nossa militância foi muito firme, muito forte, sem medo de enfrentar tudo aquilo que nós enfrentamos. Se o presidente Lula subiu de novo a rampa do Palácio do Planalto foi por causa da resistência, da resiliência da militância do Partido dos Trabalhadores”, enalteceu Gleisi Hoffmann.
A dirigente fez questão, ainda, de lembrar o vanguardismo do PT ao incluir as mulheres nas mais importantes lutas do partido, referindo-se diretamente à ex-presidente Dilma Rousseff, outro símbolo de resistência da esquerda brasileira. “Nenhum presidente abriu tanto caminho para mulheres, incentivou, oportunizou, construiu para que a primeira mulher, nossa companheira Dilma Rousseff, se tornasse presidente da República. E para que a primeira mulher fosse presidenta de um dos maiores partidos desse país”, frisou Hoffmann, dirigindo-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com ela, “o valor histórico dessa postura foi, é e será fundamental para colocar, de vez, mulheres como protagonistas na cena da política brasileira (…) Viva a militância feminina, as mulheres do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras”. No que diz respeito às origens do PT e às características que o tornam único, Gleisi enfatizou a importância de manter a conexão com o povo trabalhador. “Não estaríamos aqui se não tivéssemos mantido nosso compromisso com a origem, com os trabalhadores e com o povo brasileiro”. Acrescentou: “Nosso compromisso foi mudar a política, o país e a vida das pessoas. Começamos inovando na organização política, um partido organizado de baixo para cima, nas fábricas, nos campos, nas escolas, comunidades de base, para dar vez a quem nunca teve”.
Nos eventos promovidos, a militância petista rechaçou, de maneira uníssona, a anistia pleiteada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e por grupos da extrema-direita. Gleisi argumentou que a tentativa de golpe de Estado, que resultou na depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília, está amplamente documentada pelas autoridades policiais. E continuou: “Com provas de um farto material produzido pelos seus asseclas, Bolsonaro sentará no banco dos réus. Será julgado pelo devido processo legal, coisa que não aconteceria se ele tivesse vencido a eleição. Nem por perto isso se compara com o que o presidente Lula sofreu, com o que nós sofremos, na operação conduzida por Sérgio Moro. Ali, foram prisões ilegais, injustas, delações forjadas. Por isso que nós temos que ser firmes nesse julgamento. E ser firmes para que os responsáveis cumpram penas e sejam punidos. Por isso é sem anistia para Bolsonaro e para aqueles que praticaram o oito de janeiro de 2023”. Já o presidente Lula defendeu os investimentos em inclusão social e criticou o governo anterior por ter negligenciado os mais vulneráveis.
Lula se emocionou ao lembrar do acidente doméstico que sofreu no Palácio da Alvorada e das investidas truculentas da extrema-direita contra o seu governo. Ao pregar o enfrentamento à burguesia e seus representantes, o mandatário garantiu: “Eu estou mais vivo do que nunca, mais forte do que nunca, e quem quiser me derrotar vai ter que ir para um lugar onde a gente sabe combater, que é na rua, conversando com o povo, conversando com mulheres, conversando com homens, organizando as pessoas, porque a gente não veio de forma temporária, a gente veio para mudar a história do Brasil”. Ele prometeu cuidar do povo mais pobre, do povo trabalhador, dos empreendedores, dos pequenos, e exaltou os papéis da presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann e da primeira-dama Janja Lula da Silva na política nacional. Sobre Gleisi, disse que não saberia “se a gente teria um homem capaz de aguentar” o que a parlamentar teve que administrar nos últimos anos. “Você é motivo de orgulho para mim”, expressou. A respeito de Janja, o presidente a definiu como “a bola da vez” por conta da perseguição da extrema-direita à primeira-dama. E prosseguiu: “Eu disse para ela: você tem duas opções. Ou para de fazer o que gosta e eles vão parar de te incomodar, ou você continua falando até eles perceberem que não vão mudar a sua ideologia”.
Apesar do momento difícil porque atravessa a democracia brasileira, o presidente Lula pediu esperança aos trabalhadores e às trabalhadoras. “O PT nasceu para ser diferente, mas não se trata de propor uma volta ao passado. O Brasil e o mundo mudaram muito nos últimos anos e o PT precisa estar conectado com o futuro. E o futuro tem enormes desafios”, salientou. Mas, em seguida, contemporizou: “Não precisamos temer o futuro. Precisamos, ao contrário, ajudar a construir um futuro melhor para o Brasil e para o povo brasileiro, provando que o Brasil vai superar a mentira, o amor vencer o ódio e a esperança vai ser maior que o mesmo. É esse país que nós precisamos construir. O Brasil é grande demais para ser pequeno diante de qualquer país, por maior que ele seja”. Líder do PT na Câmara, o deputado federal Lindbergh Farias (RJ) fez um relato sobre a história de Lula, as greves dos trabalhadores, a prisão durante a ditadura militar, a fundação do PT, a eleição para presidente, a perseguição pela operação Lava Jato e a volta ao Planalto. Exaltou a decisão de Lula de provar sua inocência na Justiça. “Foi a senha para a resistência”, concluiu.