A ameaça de uma debandada de filiados, alegando “pendências não resolvidas” pela cúpula estadual, afeta o PSB da Paraíba às vésperas da troca de comando no partido e desafia a habilidade política do governador João Azevêdo, principal líder da agremiação e provável candidato ao Senado no pleito de 2026.
Azevêdo prepara-se para assumir a presidência estadual da legenda, sucedendo ao deputado federal Gervásio Maia, e alguns filiados ilustres como os suplentes de deputado Ricardo Barbosa e Rafaela Camaraense já sinalizaram movimento de desligamento do PSB, cortejando o ingresso em outras siglas.
A alegação dos insatisfeitos é que não há espaços nem perspectivas de viabilidade para a eleição de candidatos a eleições proporcionais por causa da falta de articulação interna da atual direção socialista. Ricardo Barbosa, que foi deputado estadual, é primeiro suplente de federal e presidente da Companhia Docas do Porto de Cabedelo, já faz acenos na direção do Republicanos, dirigido pelo deputado Hugo Motta, como estratégia para garantir seu futuro político.
Rafaela Camaraense, que é atual secretária do Meio Ambiente do Estado, disse que está esperando uma conversa com o governador João Azevêdo mas confirmou que também está inclinada a deixar a legenda dada a falta de condições de sobrevivência política.
O próprio deputado Gervásio Maia, que sofre críticas pela sua condução à frente do Partido Socialista, também estaria insatisfeito com o esvaziamento do PSB, já que corre o risco de ficar isolado, sem “cauda partidária”, para concorrer a um novo mandato à Câmara dos Deputados.
A ascensão do governador João Azevêdo ao comando foi anunciada pelo presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, ressaltando o papel de liderança que o chefe do executivo ocupa, sobretudo depois da sua reeleição ao governo da Paraíba em 2022. A tese é defendida por outros políticos da legenda, com atuação na Assembleia Legislativa, que se queixam, nos bastidores, da “falta de agressividade” do PSB na sua tática de fortalecimento, ao contrário de outros partidos que avançam na ocupação de espaços, como o Republicanos.
Este tem a possibilidade de aumentar sua bancada na Assembleia para 15 deputados, o que é atribuído ao efeito “Hugo Motta”, referência à eleição do deputado para presidente da Câmara Federal e ao protagonismo que ele passou a ter no cenário nacional e, consequentemente, no cenário estadual.
A renovação nos comandos do PSB deverá atingir a própria direção nacional. O prefeito reeleito do Recife, João Campos, filho do ex-governador e ex-presidenciável Eduardo Campos, vai assumir a presidência do partido em substituição a Siqueira e deverá ganhar visibilidade para composições e disputas no plano nacional.
Pessoalmente, em princípio, João Campos está sendo cogitado em termos eleitorais para disputar o governo de Pernambuco contra o esquema da governadora Raquel Lyra, do PSDB, e outros adversários na própria esquerda, mas seu nome é agitado desde agora para uma candidatura à presidência da República, na tentativa de concretizar o sonho que o seu pai não pôde realizar por ter falecido em acidente aéreo em São Paulo.
O PSB nacional enfrenta um debate interno, inclusive, quanto à mudança da sigla para “Partido da Sociedade Brasileira”, retirando-se o foco no socialismo, mas João Campos não é entusiasta dessa ideia.
Na Paraíba, João Azevêdo envolveu-se em sucessivas quedas-de-braço para voltar ao PSB depois que o ex-governador Ricardo Coutinho investiu-se por um tempo no comando e passou a retaliar os aliados de João. No final das contas, a cúpula nacional socialista optou pela permanência de João, “com honras”, dentro da agremiação, e o processo deve ser reforçado com a sua investidura na presidência.
Até então, apesar de divergências pontuais com Gervásio Maia sobre questões municipais, João Azevêdo não havia considerado prioridade a sua investidura no comando.
Mas a evolução da conjuntura após a sua reeleição e a expectativa de definições para 2026 estão contribuindo para fazê-lo reavaliar estratégias e assumir, de fato, a liderança da agremiação, que está na ante-sala do poder federal com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin (SP), que acumula o posto com o ministério da Indústria e Comércio.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba