Quando o Major Otílio Ciraulo faleceu, em 1963, seu nome já estava inscrito na memória afetiva da cidade da melhor forma possível: pelas vias da folia e da crítica social. Filho de imigrantes italianos, a inquietude com o normal marcou inteiramente sua vida.
Tanto que aos 16 anos fugiu da Paraíba, num vapor que partiu do Sanhauá, e só foi desembarcar no Rio de Janeiro, onde residia uma irmã, Maria, casada com um arquiteto italiano, Pascoal Fiorillo, que ficou famoso em João Pessoa após belas e marcantes construções locais, a exemplo do Grupo Tomaz Mindelo e do coreto da Praça Venâncio Neiva (a do Pavilhão do Chá).
No Rio, ingressou no Exército, propagou os ideais da Revolução de 1930, e voltou à Paraíba. Virou amigo de gente inscrita em diversas alas da política paraibana, sem ser filiado a nenhum partido.
Porém, tudo isso que estou contando, conforme publicação do perfil Ciraulo Famiglia, no Facebook, não lhe tornou tão famoso quanto o bloco criado por ele e que fez muito sucesso, principalmente nos anos 1930, 1940 e 1950, no carnaval de João Pessoa.
Chamado ETLeF (Estamos Todos Logrados e Falidos), a agremiação (com direito a sede e tudo, na avenida Abdon Milanez, depois Avenida da Liberdade, em Bayeux, segundo me atualizou Helena Ciraulo, filha vivíssima do major, e esquipando o mundo) afora animar os foliões, também levantava questões sociais e políticas da época, defendendo melhorias para a população.
A sigla fazia referência à Empresa de Tração, Luz e Força (ETLeF), responsável pela energia elétrica na cidade, e que enfrentou muitas críticas pela precarização dos serviços prestados. Foi nessa pisada que o ETLeF conquistou lugar especial na história de João Pessoa, fazendo sucesso anos a fio.
Assim, o carnaval também se tornava um instrumento de conexão e reflexão, evidenciando que a tradicional festa, inspirada por lideranças criativas como a do Major Ciraulo, podia ser muito mais do que apenas folia.
Foto publicada pelo perfil Ciraulo Famiglia, no Facebook.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba
Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.