Não foi somente a existência do clube Esquadrilha V, sobre o qual falamos nesses dias, que fez a história do Varadouro, em João Pessoa, na área que compreende as ruas São Miguel, Visconde de Itaparica, da República e Praça da Pedra, um dos mais vibrantes polos socioculturais e econômicos da cidade, até início da segunda metade do Século XX.
No auge de sua importância, abrigava, além do clube referido, uma intensa vida urbana marcada por equipamentos culturais, festividades e atividades industriais e comerciais. Três cinemas faziam do local um centro de lazer para os moradores: o Cine São Pedro, na Rua São Miguel, e mais o Cine Astória e o Cine Filipeia, na Rua da República.
As festividades também eram notáveis, com a Visconde de Itaparica sendo palco de carnavais de rua e outras festividades, enquanto as ruas São Miguel e Índio Piragibe se transformavam em espaços celebrativos durante a tradicional Festa da Conceição, em dezembro.
No plano econômico, o Varadouro destacava-se por um distrito industrial que incluía a Fábrica do Guaraná Sanhauá, a Prensa de Algodão Abílio Dantas, as Indústrias Matarazzo e a fábrica de cimento localizada na vizinha Ilha do Bispo. O comércio era dinâmico, com destaque para a movimentada Rua Beaurepaire Rohan, referência, cronologicamente, de dois mercados públicos: o da B. Rohan e o da Primavera.
A famosa padaria Águia de Ouro também fazia parte dessa rede comercial. A ligação daquela parte do Varadouro com o centro urbano da Cidade Alta de João Pessoa era facilitada. A Rua da República a conecta diretamente com o Palácio do Governo e a Praça Venâncio Neiva, enquanto a Índio Piragibe serve como outro acesso àquele espaço.
Já a Nino Lima oferece ligação à moderna Avenida João Machado e às Trincheiras. Apesar de seu passado marcante, hoje essa área da cidade parece estar à margem da memória coletiva.
Muitos jovens pessoenses desconhecem marcos da cidade como a Praça da Pedra ou a Rua São Miguel, reflexo de um processo de desvalorização histórica e urbanística, que precisa ser revertido.
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba
Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.