
Em João Pessoa, o fenômeno dos cabarés, como casas de entretenimento e prostituição, ganhou maior expressão a partir do Século XX. À medida que a cidade subia, eles iam se instalando no Varadouro, adquirindo formatos cada vez mais caprichados. Rua Maciel Pinheiro e Rua da Areia eram os pontos que se iam tornando mais procurados. O cabaré se liga à economia informal e à prestação de serviços. Em muitos contextos, acaba (no Presente do Indicativo, mesmo) sendo uma forma de subsistência. Consta que ao assumir a presidência da Parahyba do Norte, em 1928, João Pessoa manifestou o desejo de transferir de local o Teatro Santa Roza, baseado numa visão moralista sobre a parte baixa da cidade. A verdade é que os cabarés frequentemente desafiam normas de moralidade, virando alvo de controle social e político. Em diferentes períodos históricos, foram regulados, proibidos ou estigmatizados como locais de decadência moral. Ainda mais, na Paraíba, onde, na década de 1920, havia sido estabelecida uma malfadada “linha da moralidade”, que impedia os alunos do Lyceu Paraibano (que funcionava na atual Faculdade de Direito) de se aproximarem das alunas da Escola Normal (abrigada no hoje prédio do Tribunal de Justiça), ambos na atual Praça João Pessoa, o que terminou provocando o assassinato, por um vigia, do jovem Sady, quando buscava falar com sua amada Ágaba. Contudo, apesar do desgosto de parte das elites pessoenses, e das proibições dirigidas aos cabarés, eles parecem ter sido locais importantes nos carnavais pessoenses, na primeira metade dos anos 1900. Vejam essas ordens emanadas da autoridade policial para o Carnaval de 1936, que, na prática, admitiam os cabarés: “é proibida a venda de lança-perfume em qualquer dos cabarés da cidade”; “nos clubes e nos cabarés só será permitido o uso de meias máscaras”; “é proibida a entrada de blocos carnavalescos nos hotéis, pensões, cafés, cabarés e clubes”. Não tendo como se contrapor, talvez até devido à resistência velada de muitos dos figurões da própria elite, o jeito para a polícia era disciplinar.
Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.