Opinião

NATAL COM FOME NO SUPERMERCADO MATHEUS - Por Natanael Sarmento

NATAL COM FOME NO SUPERMERCADO MATHEUS - Por Natanael Sarmento

Para quem desconhece as campanhas do “Natal Sem Fome” do MLB – Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas, alcançam cada vez mais credibilidade e chegam à 15ª edição nacional anual. Representa a luta solidária visando assegurar ceia de Natal para quem mais precisa. Nesse período de fraternidade cristã, as monstruosas desigualdades sociais ficam mais escancaradas.

Solidariedade e denúncia

É possível agir contra a fome com compaixão, e como faz o MLB promovendo a luta consciente e organizada em defesa da solidariedade. E denuncia a situação das grandes contradições do Brasil, tão rico, ter 30 milhões de pessoas com fome e 64 milhões sem alimentação quase todos os dias.

Conquistas

Por meio da luta, neste Natal de 2024, o MLB arrecadou
5.000 cestas básicas, 2.500 frangos e 500 chesters, porém, nenhuma delas foi do avarento Supermercado Matheus. Evidentemente não resolve os problemas estruturais do sistema capitalista excludente. Mas, fica o exemplo de que quem luta conquista e, ao menos, emergencialmente, diminui a fome de muitas famílias, neste período tão simbólico.

“Matheus, primeiro os teus”

Afigura-se enganoso o slogan “Somos um só coração” dos supermercados Matheus, maior cartel comercial varejista de alimentos do Norte Nordeste com suas 200 unidades – Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Revelou-se além de mentiroso, cruel, para as pessoas pobres da campanha Natal Sem Fome do MLB, no último dia 21 de dezembro. A mesquinhez singular desse cartel calhava mais o lema: “Matheus, primeiro os teus”. Entre os cinco maiores do setor, avaliado em 24,6 bilhões (2023), no entanto, vê-se que o supermercado Matheus cresceu ostentando o falso lema “um só coração”, conforme revelado pela própria administração ao negar um pedaço de pão a quem tem fome. Pior ainda, o fez de forma arrogante, recorrendo à violência da Polícia Militar no Pará e no Piauí.

Arcaicos

A empresa bilionária não apenas negou cestas básicas a quem tem fome, como negou-se a qualquer negociação de fato e apelou para o diálogo dos cassetetes da truculenta PM em pleno período natalino. Uma atitude inaceitável, marcada pela brutalidade, pela insensibilidade, a direção do cartel recorreu ao velho coronelismo brasileiro que tratava questões sociais como casos de polícia.

Truculência

O MLB denunciou para o Brasil e o exterior a truculência policial do supermercado “Matheus, primeiro os teus”, praticada em toda região. Em Belém do Pará a PM à serviço do supermercado prendeu, numa manifestação pacífica, os manifestantes Edísio Leite, Carol Martins, Raquel Brício e Denily Fonseca. No Piauí, a administração lançou mão de um enorme contingente da PM para intimidar e reprimir os manifestantes dentro da própria Loja, instituiu e retirou um BO, enfim, um tiro no pé, ou quem sabe, no “um só coração”.

Isolados

O mau exemplo desse cartel de venda de alimentos no N/NE, felizmente, está na contramão da história e não foi seguido pelas redes congêneres, em todo país. Mais antenados com as responsabilidades sociais das empresas, os outros grupos e redes de supermercados distribuíram alimentos com as pessoas cadastradas pelo MLB. Milhares de brasileiros, inclusive da região Nordeste, receberão cestas da solidariedade das doações das outras regiões do Brasil, já que o tacanho monopolista da região, “Matheus, primeiro os teus”, não doou um único pão às famílias mais carentes e, ao mesmo tempo, mais aguerridas na luta por um mundo melhor.

Crime

Ensina-se nos cursos de direito que na aplicação da lei o juiz deve atender o interesse social e exigências do bem-comum. Ora, indignar-se, organizar-se e protestar contra a fome, não é crime. Crime é a fome, e, certamente, o quê a causa, ou os responsáveis por ela.

Desperdício

No rico Brasil, descarta-se 40 milhões de toneladas de alimentos por ano, 30% do que é produzido.

Reação

Já se disse que: “aqui se faz e aqui se paga”. Não tarda por esperar. Pessoalmente manifesto total solidariedade à reação da sociedade civil contra os atos avarentos e arbitrários do grupo monopolista e truculento, atrasado, aderindo à campanha de não fazer compras nas unidades desse cartel. Como diziam nossos antepassados, a esperteza do ganancioso, o olho grande do avarento pode engolir o seu próprio dono.
Assim, agiu o supermercado “Matheus, primeiro os teus”, ao chocar-se frontalmente com o espírito de Natal das famílias mais pobres do norte e nordeste, apoiadas pelo MLB.
Fraternidade, solidariedade cristã, compromisso social das empresas são demonstrados na prática e não com slogans e propagandas enganosas.

Natanael Sarmento é advogado, professor e escritor, membro do Diretório Nacional da Unidade Popular.