Investigação

Diálogos e datas indicam que Bolsonaro sabia do plano de matar Lula, Alckmin e Moraes

FOTO: TÂNIA REGO/AGÊNCIA BRASIL
FOTO: TÂNIA REGO/AGÊNCIA BRASIL

A Polícia Federal afirmou, nesta terça-feira(26), que uma série de diálogos entre interlocutores, análise da localização de celulares e datas e locais de reuniões apontam que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sabia do plano de matar o presidente Lula (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Confira o contexto completo abaixo

Porém, Bolsonaro nega ter tido acesso ao plano de execução das autoridades “Esquece, jamais. Dentro das quatro linhas não tem pena de morte”, relatou na última segunda-feira (25).

Segundo a PF, o General da Reserva, Mario Fernandes, foi o responsável por elaborar o plano intitulado de “Punhal Verde Amarelo”.

Logo depois da primeira impressão no Palácio do Planalto, em 9 de novembro de 2022, o militar foi até o Palácio da Alvorada para conversar com Bolsonaro.

Em 06 de dezembro do mesmo ano, Mario imprime o plano novamente, na mesma hora em que Rafael de Oliveira estava no Palácio do Planalto. Um dia após o fato, Oliveira inicia a execução dos planos golpistas com a compra de um celular descartável. Através dele, participou de um grupo para a operacionalização da execução das autoridades, de acordo com a investigação.

Ainda conforme o processo investigativo da PF, Bolsonaro também se movimentou no dia 07 de dezembro.

“Após ter realizado pessoalmente ajustes na minuta do decreto presidencial, Jair Bolsonaro convocou os comandantes das Forças Militares no Palácio da Alvorada para apresentar o documento e pressionar as Forças Armadas a aderirem ao plano de abolição do Estado democrático de Direito”, diz.

Durante a reunião, o ex-presidente ouviu a negativa de apoio ao golpe dos comandantes do Exército e da Aeronáutica. Assim, O único que colocou tropas à disposição foi o chefe da Marinha, almirante Almir Garnier Santos.

Segundo a PF, no dia em que o golpe seria executado, com a prisão ou assassinato de Moraes, o general Mario Fernandes enviou uma mensagem para o ministro Luiz Eduardo Ramos:

“Kid Preto, algumas fontes sinalizaram que o comandante da Força sinalizaria hoje, foi ao Alvorada para sinalizar ao presidente que ele podia dar uma ordem.”

O general Freire Gomes realmente havia conversado com Bolsonaro na manhã do dia 15 de dezembro, no Palácio da Alvorada. Mario pede então a Ramos: 

“Blinda ele [Bolsonaro] contra qualquer desestímulo, qualquer assessoramento diferente. Isso é importante”, disse em mensagem de áudio.

O próprio general Mario Fernandes foi ao Alvorada na tarde de 15 de dezembro. Ele chegou ao palácio às 16h24 e foi embora uma hora depois.

Na noite daquele dia, militares do Exército estavam a postos para executar o plano golpista contra Moraes. A Polícia Federal diz que, simultaneamente:

“O núcleo jurídico do grupo investigado finalizou o decreto que formalizaria a ruptura institucional, mediante a decretação de estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral”.

Segundo a PF, o plano de execução das autoridades terminou sendo abortado já com os militares em campo porque o golpe só seria viável com a participação de “um elemento fundamental, o apoio do braço armado do Estado, em especial a força terrestre, o Exército”.

“No entanto, os comandantes Freire Gomes do Exército e Baptista Junior da Aeronáutica se posicionaram contrários a qualquer medida que causasse a abolição do Estado democrático de Direito. Assim, a operação Copa 2022, na data de 15 de dezembro de 2022, enquanto já estava em andamento, teve que ser abortada”, diz a Polícia Federal.

No dia seguinte à tentativa de golpe, o coronel Gustavo Gomes enviou uma mensagem encaminhada para o tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliere em que se mostrou desanimado com o posicionamento do Exército.

“Infelizmente a FAB afrouxou e o EB agora também está afrouxando… somente a MB quer guerra… o PR realmente foi abandonado… É foda… só interesses pessoais… já começaram as promessas de um futuro promissor para todos os envolvidos nas decisões…”, diz a mensagem encaminhada por Gomes.


Conclusão

Por fim, a PF concluiu que coincidência de datas e mensagens enviadas por militares apontam que Bolsonaro sabia de todos os atos relacionados na investigação.

“Os dados descritos corroboram todo o arcabouço probatório, demonstrando que o então presidente da República Jair Bolsonaro efetivamente planejou, dirigiu e executou, de forma coordenada com os demais integrantes do grupo desde [pelo menos] o ano de 2019, atos concretos que objetivavam a abolição do Estado democrático de Direito, com a sua permanência no cargo de presidente da República Federativa do Brasil, fato que não se consumou por circunstâncias alheias a sua vontade.”