Assinada pela ‘Direção da Cruz Vermelha Brasileira’, finalmente recebi anteontem à tarde resposta a denúncias aqui publicadas sobre alguns dos mais graves problemas enfrentados atualmente pelo Hospital de Trauma da Capital. Nas informações prestadas, a Cruz admite que a Sala Vermelha do hospital está com lotação 40% acima de sua capacidade e dá a entender que viriam do Ortotrauma de Mangabeira, o Trauminha, os pacientes em excesso que recebe.
Em certa medida, tal referência inaugura a entrada da gestora do Trauma no embate político que envolve o hospital, transformado anteontem em arena de luta quase corporal entre representantes do Governo do Estado e da oposição. Refiro-me à tumultuada visita de comissão parlamentar ao Trauma na última quarta-feira, visita essa marcada por bate-boca quase-sai-no-tapa entre o Deputado Vituriano de Abreu e o secretário de Saúde do Estado, Waldson de Souza.
Como se não bastasse, no mesmo dia desse confronto a própria Cruz encarrega-se de jogar mais lenha na fogueira ao afirmar que deveriam estar no Trauminha muitos dos pacientes acolhidos na superlotada e caótica Sala Vermelha do Trauma. Lembrando: o Trauminha é administrado pela Prefeitura da Capital, onde dá expediente o prefeito Luciano Cartaxo, presentemente o adversário mais temido pelo ‘dono’ do Trauma, o governador Ricardo Coutinho.
CV: emergência na resposta
Pela primeira vez nos últimos dois anos, no mesmo dia em que envio pedido de esclarecimento recebo uma resposta da direção do Trauma ou da Cruz. Demandei a Assessoria de Comunicação do hospital por volta das 13h da quarta e a manifestação consolidada do outro lado aportou no meu i-meio quatro horas depois. Senti-me qual paciente carente de atendimento de emergência que tem sorte de pegar uma vaguinha na Sala Vermelha. No tópico seguinte, o leitor poderá acompanhar o que foi denunciado num parágrafo e, no seguinte, o que respondeu a Cruz.
Pingue-pongue com a Cruz
1. Denúncia: enfermeiros, neste fim de mês, estão muito descontentes com a Cruz Vermelha, pois alguns tiraram vários plantões extras e não foram pagos.
Resposta: a denúncia não procede.
2. Denúncia: nas reuniões com os profissionais no hospital para colher sugestões de melhorias, o que eles ouvem é cobrança por empenho no trabalho. Como cobrar empenho se não há condições de trabalho? O clima é de pressão total.
Resposta: pedido de empenho nas atividades ocorre em qualquer gestão séria, desde que seja feito democraticamente e atendendo aos preceitos legais. Para isso, são oferecidos aos profissionais toda estrutura e insumos necessários.
3. Denúncia: na UTI pediátrica já diminuiu um leito dos três existentes e estão querendo fechar essa unidade e transferi-la para o Hospital Arlinda Marques. E as crianças graves que necessitam de cuidados intensivos, politraumatizadas, vítimas de queimaduras e de outras doenças, irão para onde? Será que economizar dinheiro é mais importante que salvar vidas? O secretário de Saúde do Estado está sabendo disso?
Resposta: a direção da Cruz Vermelha Brasileira em hipótese alguma vai desamparar pacientes que sejam do perfil de atendimento do Trauma.
4. Denúncia: a Sala Vermelha continua superlotada. Triste realidade. Alô, Ministério Público, onde anda você?
Resposta: de fato, a Área Vermelha tem atendido, em média, 40% a mais de pacientes do que a capacidade instalada. Boa parte dessa demanda é de pacientes não regulados e fora do perfil de atendimento da Instituição, conforme noticiado pela CVB ao Ministério Público. Fica a pergunta: por que esses pacientes são trazidos ao Trauma, em vez de conduzidos a unidades apropriadas para recebê-los, como o Ortotrauma?
5. Denúncia: a direção da Cruz Vermelha parece que fez ouvido de mercador para as denúncias publicadas na sua coluna. Seria o momento certo para acionar o Ministério Público e os Conselhos de Classe (Medicina, Enfermagem, Fisioterapia etc.)? Ou aguardar um tempo mais para o pronunciamento da Cruz Vermelha?
Resposta: a Cruz Vermelha Brasileira tomou as medidas cabíveis e judiciais para estabelecer a verdade. Esta Instituição não deixará que se crie desconforto descabido nos cidadãos paraibanos. As portas estão abertas a todos os cidadãos que, de maneira ordeira, queiram certificar-se da qualidade dos serviços prestados. Convite esse já feito a este colunista e reiterado agora.
6. Denúncia: o clima está tenso lá, mas já se nota uma esperança no fim do túnel (acho que muita gente leu a sua coluna, porém o silêncio prevalece). Afinal, existe todo um arsenal de câmaras filmadoras nos ambientes e de funcionários da Cruz Vermelha encarregados em levar à direção quem faz fotografias do caos com smarthphones. Temos que defender as melhorias agora, pois mais tarde nós como cidadãos podemos vir a necessitar de adentrar no hospital de Trauma como pacientes e com certeza queremos ser atendidos com decência e com condições ideais.
Resposta: prevalecerão sempre o bom senso e os direitos individuais de personalidade dos pacientes, consagrados nas clausulas pétreas da Constituição. Ou seja, não será admitida, em hipótese alguma, a exposição dos pacientes tratados no Hospital de Trauma. Todas as tentativas que ferirem este acordo legal, social e democrático serão repelidas com as devidas respostas judiciais.