Carlos Chagas
O Lula admitiu candidatar-se à presidência da República em 2018, “se os adversários continuarem a encher-lhe o saco”. Como acaba de completar 68 anos, seria eleito com 73. Nada demais no mundo de hoje, em termos de preservação de saúde, apesar do alerta que nossa história recente registrou: Tancredo Neves elegeu-se com 76 anos e o processo político deu no que deu.
Existe, é claro, o reverso da medalha. Konrad Adennauer reconstruiu a Alemanha aos 80 anos. Winston Churchill salvou a Inglaterra pouco antes de completar 70 e, além disso, voltou a ser primeiro-ministro aos 73.
Nada haveria a opor à idade do suposto candidato, já que surpresas acontecem até com criancinhas e tendo em vista o vertiginoso avanço da Medicina. O problema da nova candidatura Lula é outro. Ainda há dias, num pronunciamento polêmico, ele recomendou renovação ao PT. Exortou para o aparecimento de novos líderes entre os companheiros, inclusive para disputarem as eleições do ano que vem. Sua volta ao poder em 2018 não seria propriamente uma renovação no partido. Mais uma vez, a rolha no gargalo da garrafa impediria o conteúdo de expandir-se.
Apesar disso, dúvidas inexistem: caso não sobrevenham inusitados, o Lula se elegeria daqui a cinco anos, como também no ano que vem. É a certeza da excelência eleitoral apregoada no rótulo de qualquer pesquisa que venha a ser feita.
O PERIGO DA AUTONOMIA
Por iniciativa do senador Renan Calheiros, volta ao debate a questão da autonomia do Banco Central. O senador Francisco Dornelles apresentou proposta da emenda constitucional desvinculando a política cambial do restante da política econômica do governo. Foi generoso, dando ao presidente da instituição e seus diretores mandatos de seis anos, renováveis por mais seis. Doze anos na condução dos negócios ligados à moeda seriam mais do que suficientes para sustentar a unidade de uma programação, sem interferências externas.
O problema da autonomia do Banco Central não é esse. É outro que envolve o desdobramento do projeto atual. Porque para o senador Dornelles, o presidente da República continuará nomeando o presidente do BC e seus diretores, submetendo seus nomes ao Senado, para aprovação. Logo surgirão adendos e acréscimos em nome da “verdadeira” autonomia, expressos pela importância de afastar definitivamente o governo da política cambial. Outros senadores proporão, agora ou mais tarde, que os ocupantes desses cargos venham a ser designados por indicação exclusiva da categoria. Qual? A dos banqueiros…
É BOM PARAR
De vez em quando os exageros se multiplicam. Tudo bem que o governo tenha proposto e o Congresso, aprovado, as cotas raciais para estudantes universitários. Quinhentos anos do horror da escravidão e de suas consequências não se apagam da noite para o dia. O número de negros que agora tem acesso ao ensino superior só dignifica a nação e aprimora a sociedade. Mesmo o estabelecimento de cotas para mulheres ocuparem cadeiras no Parlamento resgata séculos de opressão contra o sexo feminino.
Agora, determinar que um quinto das vagas na Câmara, Senado, Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores destinem-se cidadãos de cor negra, é um pouco demais. Interfere no direito de livre escolha do eleitor em seus candidatos. E o pior é se a moda pega: logo surgirão projetos determinando cotas para descendentes de japoneses, de escandinavos, quem sabe de gays e até de black-blocs. Melhor seria deixar a democracia desenvolver-se naturalmente…
FALTARAM DOIS
Tomara que produza resultados o encontro de ontem entre o ministro da Justiça e os secretários de Segurança do Rio e São Paulo. São necessárias medidas novas e urgentes para interromper o ciclo de barbaridades verificadas nos dois estados sob a capa de protestos corporativos. Só que na reunião referida faltaram dois personagens: os governadores Geraldo Alckmin e Sérgio Cabral. Ou não será deles a responsabilidade maior pela preservação da ordem em seus territórios?