Entre as vias urbanas que marcam o bairro do Róger, existe a Avenida Dom Vital (complementada luxuosamente pela Ladeira Dom Vital, com direção leste-oeste). Curioso é que nos seus extremos se encontra a mesma avenida, a Gouveia Nóbrega, aquela que se chamou Mira Mar, da qual já falamos, distinguida por uma imensa curva.
Na esquina da rua Borges da Fonseca (a da Igreja de Santa Terezinha), onde começa a ladeira que liga o bairro ao Varadouro e pontifica o bar Cabeça de Galo, se descortina uma vista magnífica do pôr do sol no Rio Sanhauá. A via homenageia Dom Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira (1844-1878), natural de Pedras de Fogo, e com processo de canonização aberto desde 1930, no Vaticano.
Ganhou destaque histórico por seu papel na chamada “Questão Religiosa” que sacudiu a relação entre a Igreja e o Império Brasileiro. Nomeado bispo de Olinda em 1871 – numa época em que a maçonaria tinha grande influência no país e mantinha relação próxima com muitos membros da elite imperial, havendo também muitos padres maçons -, Dom Vital condenou abertamente a presença deles na Igreja.
A postura o colocou em conflito direto com o governo imperial, que não via com bons olhos a interferência eclesiástica em questões que considerava de domínio civil. A situação escalou quando Dom Vital interditou irmandades e confrarias que se recusaram a abandonar laços com a maçonaria, atitude que levou o imperador Dom Pedro II a reagir duramente. Em 1874, o bispo foi preso e julgado em um processo que provocou grande comoção pública.
Dom Vital acabou sendo condenado a quatro anos de prisão com trabalhos forçados, o que fez dele um mártir aos olhos de muitos católicos. Após um tempo encarcerado, foi liberado devido à pressão popular e à intervenção da Santa Sé, seguindo para Roma. Voltou ao Brasil, retomou o trabalho diocesano, mas, doente, decidiu ir para a França. Dom vital faleceu em Paris, em 4 de julho de 1878, sob suspeita de haver sido envenenado.