Por Rubens Nóbrega
Desde a manhã de terça-feira (22) tento saber da Direção do Hospital de Trauma da Capital se há alguma explicação para o que mostra essa fotografia e, muito mais, o que diz o texto reproduzido abaixo, com informações sobre a situação em que se encontrava a chamada Ala Vermelha do HT até o início desta semana.
A mensagem que me chegou sobre essa calamidade, em forma de contundente denúncia, expõe aquele setor do Trauma qual sucata de equipamentos médicos, onde a precariedade e os riscos no atendimento hospitalar fazem dos seus pacientes, igualmente, uma sucata. Sucata humana.
Por conta disso, a demora da direção do Hospital em responder, esclarecer, rebater ou desmentir a denúncia sugere-me que não há resposta possível. Torço, contudo, para que a demora tenha o seguinte motivo: tão logo ficaram cientes da denúncia, danaram-se a providenciar reparos, equipamentos, insumos e pessoal necessário para humanizar o atendimento na Ala Vermelha. Tomara.
Bem, vamos às informações sobre o quadro caótico ilustrado pela foto acima. Prestem atenção, por favor, na riqueza de detalhes e no conhecimento que a fonte da coluna demonstra ter sobre o que se passa no interior do Hospital de Trauma de João Pessoa. Deixo vocês com o texto do colaborador.
Visão do inferno
Esta fotografia é da área vermelha. Veja que não há monitores suficientes (para avaliação contínua da pressão arterial, saturação de oxigênio e do ritmo cardíaco) para todos os pacientes e alguns desses monitores se encontram com defeito. Faltam equipamentos básicos para entubação orotraqueal, como ambus, que muitos estão defeituosos. Os laringoscópios (instrumento que se coloca na orofaringe para colocar o tubo traqueal) estão alguns com as luzes defeituosas.
Os ventiladores mecânicos (que são os equipamentos que fazem o paciente respirar artificialmente), em alguns casos não funcionam bem, pois há falha e escape de oxigênio e ar pelo circuito, com materiais já desgastados pelo tempo, necessitando muitas vezes de se vedar o vazamento de ar pelo circuito com esparadrapo.
As macas estão muito próximas uma da outra, dificultando o exame dos fisioterapeutas, dos médicos e a administração de medicamentos e aferição dos sinais vitais por parte da enfermagem. Os pacientes perdem total privacidade ao exercer suas necessidades fisiológicas no próprio local. Na sala, o odor de sangue, urina, suor e o odor do ato defecatório se unem, em um ambiente totalmente insalubre.
Nesta sala vermelha, pacientes politraumatizados de acidentes ficam do lado de pacientes clínicos com infecções pulmonares ou que tem hemorragia digestiva alta, vomitando sangue. O número de técnicos de enfermagem está sendo diminuído, assim como o número de outros profissionais da saúde, prejudicando ainda mais o andamento do serviço.
Alguns desses técnicos de enfermagem estão sendo transferidos para o HTOP (Hospital Traumatologia e Ortopedia da Paraíba), antigo Prontocor. Muitos deles estão descontentes com tais transferências, pois mudaram suas escalas de trabalho. Os funcionários do laboratório são verdadeiros heróis que trabalham sem parar com tantos pacientes de uma forma exemplar, porém, devido essa grande demanda, às vezes, existe demora da chegada dos exames, evidenciando o sobrecarregamento desses profissionais.
Há uma burocracia enorme, para se conseguir medicamentos essenciais em uma situação de emergência, pois tais medicações têm que ser pegas na farmácia, ao invés de já estarem nos carrinhos da emergência ou em alguns lugares específicos, prolongando dessa forma o tempo de atendimento em casos de vida ou morte.
Faltam também pinças cirúrgicas específicas para determinados procedimentos e fios de sutura adequados para as mesmas. Os psicólogos e assistentes sociais em suas faces esboçam além de cansaço físico, o cansaço de estarem sempre pressionados para atender tantos pacientes e tantas famílias dos pacientes.
Aguardando resposta
A coluna de ontem estava reservada para esta denúncia, mas resolvi adiar a publicação por um dia para atender ao Doutor Edvan Benevides, Diretor Técnico do HT. Ele se encontrava fora da Paraíba e argumentou que somente poderia se manifestar acerca dos questionamentos quando retornasse ao Estado. Mas ontem a Assessoria de Comunicação do Trauma pediu meu número de celular para repassar ao Doutor Lenilton Costa, coordenador da Cruz Vermelha Brasileira, que estaria interessado em tratar do assunto com o colunista. Até o final da tarde, ‘nem mel nem cabaça’. Continuo no aguardo. O que vier, se vier, será publicado.