Com muita pinta ainda de residencial, mas, na verdade, endereço de clínicas e comércios, há uma rua relativamente tranquila, com localização de Correios no bairro da Torre (embora o Google a inscreva como Centro), que leva o nome de uma cidadã que viveu em João Pessoa na primeira metade do século XX: Clarice Justa.
A via tem início na Duarte da Silveira e termina na Pedro II, dois corredores de intenso trânsito na capital paraibana. Clarice Justa de Luna Freire, falecida em 9 de janeiro de 1940, foi farmacêutica e parteira. Residia e atendia na Rua Treze de Maio, 659, aceitando “chamados a qualquer hora” (possuía telefone em casa), segundo anúncio, na década de 1920, em A União.
Na época, o acesso a serviços médicos era extremamente limitado, praticamente restrito à Santa Casa da Misericórdia, e ao Pronto Socorro Municipal (esse último, na década de 1930). A Maternidade Cândida Vargas somente viria a ser inaugurada em agosto de 1945. A presença de uma profissional que combinava conhecimentos de farmacologia e obstetrícia era essencial para atender necessidades básicas de saúde da comunidade.
Como farmacêutica, ela não apenas dispensava medicamentos, mas também possuía formação para orientar tratamentos e ajudar no controle de doenças infecciosas, bem comuns na época. Isso em meio a estatísticas de elevado percentual de mortes entre parturientes, numa população majoritariamente pobre. A dualidade de suas funções permitia, portanto, abordagem um pouco mais completa da saúde, atendendo às necessidades imediatas e preventivas da população.
Muitas vezes, ela era a única referência de saúde acessível para inúmeras famílias, se transformando em figura indispensável. Assim, nada mais justo do que nomear uma rua da cidade, valorizando a história local e a figura feminina. Clarice Justa já deu nome a uma maternidade, na Treze de Maio (no endereço onde morou), e a um lactário, na Povoação Índio Piragibe (Ilha do Bispo), em João Pessoa.