O Campo de Libra chegou à sucessão
Carlos Chagas
O leilão do Campo de Libra acaba de desembarcar na sucessão presidencial. Coube ao senador Aécio Neves fazer o percurso, através de um dos mais irônicos e contundentes discursos contra o governo Dilma.
O ex-governador de Minas começou congratulando-se com a presidente da República por haver ingressado no mundo das privatizações. O governo do PT acabava de fazer a maior privatização da economia brasileira na história da República. Claro que com atraso, mas a conversão dos companheiros ao neoliberalismo deveria ser comemorada.
Estranhou a realização de um leilão com um único concorrente, um atentado à semântica, ficando as coisas mais ridículas quando Dilma requisitou sua décima-sexta cadeia nacional de rádio e televisão para festejar o evento.
Suas críticas à Petrobras foram duras, já que a empresa, ao comemorar 60 anos de fundação, triplicou seu endividamento, tendo suas ações caído 34% na bolsa de valores. Denunciou o que chamou de aventura ideológica do governo, que não reajusta os preços dos combustíveis para evitar a inflação mas já chegou ao limite máximo das previsões para este ano. Também reivindicou para a administração Fernando Henrique Cardoso a descoberta do pré-sal, estranhando porque a presidente Dilma não o havia cumprimentado e sequer mencionado.
Seguiu-se ao pronunciamento de Aécio Neves verdadeira saraivada de ataques ao governo. Francisco Dornelles previu a aplicação do regime de partilha para exploração do pré-sal pela primeira e a última vez, dado o leilão de um só concorrente, para ele o maior erro da política energética brasileira em todos os tempos.
João Agripino acusou o governo de trocar o que deu certo, o sistema de concessões, pelo duvidoso e ridículo regime de partilha, que vai dar em frustração, já que a Petrobrás só por milagre cumprirá sua obrigação de arcar com 40% das despesas.
Aloísio Nunes Ferreira acusou a presidente Dilma de comemorar um fracasso, dando um tiro na água ao promover um antileilão, fazendo votos para que o próximo já se realize com um novo governo dirigindo os destinos nacionais.
Seguiram-se outros apartes, de Mário Couto e Cássio Cunha Lima, compondo o grupo de oposicionistas. Roberto Requião, apesar de pertencer ao PMDB, foi à tribuna para nova catilinária. Chamou o leilão de Libra de “viúva Porcina”, aquela que foi sem nunca ter sido. Lembrou que ficando a Petrobrás com 40% dos investimentos, e dada a precária situação da empresa, o risco é dde a empreitada fracassar, saindo prejudicadas a educação e a saúde pública, para onde iriam os lucros. Em seu entender, o regime de concessões era ruim, mas era consistente. Já o regime de partilha é péssimo e inconfiável. Para ele, a Petrobrás deveria executar toda a operação.
Enquanto Aécio Neves permaneceu no plenário do Senado, apenas Eduardo Suplicy, do PT, teve coragem de contraditá-lo, mesmo assim em breves palavras de elogio à presidente Dilma, ocupando o restante de seu tempo em elogiar o programa de renda mínima. Só mais tarde, quando o senador mineiro já havia se retirado é que o senador Wellington Dias, do PT, pediu a palavra para defender o leilão.
CAMPANHA ANTECIPADA
Assim continuará até outubro do ano que vem, ou seja, a sucessão presidencial servindo de pano de fundo para os debates políticos. Qualquer assunto que envolva o governo encontrará Aécio Neves na primeira fila das críticas, seguido por tucanos, democratas e até alguns desgarrados do PMDB. Como Eduardo Campos e Marina Silva carecem de mandato parlamentar, ficarão prejudicados, sem a constância de câmeras e microfones para levar suas opiniões. O que pretendem os oposicionistas é obrigar o governo e Dilma a retrucarem suas críticas, aumentando o diapasão do confronto. Sabem que a presidente da República não resiste a uma réplica. Em suma, a campanha sucessória avança mais uma etapa.