Produtividade palaciana

Por Rubens Nóbrega

No tempo em que eu acreditava que Ricardo Coutinho era Ricardo Coutinho, fui convidado e participei de reunião de planejamento do mandato dele (não lembro se de vereador ou deputado estadual). Com mais de 50 pessoas. Foi uma reunião produtiva aquela, organizada – creio – pelo saudoso Coletivo RC.
Atualmente, pelo menos uma vez por mês o governador Ricardo Coutinho reúne toda a cúpula da Segurança Pública do Estado no Palácio da Redenção. Junta mais de 60 pessoas, entre secretários de Estado, comandantes da PM, assessores e, vez por outra, convidados especiais e dirigentes de outros poderes que vão lá compor o cenário e endossar tacitamente as miraculosas estatísticas de (e)feitos governamentais.
Essas reuniões em Palácio, dizem porta-vozes oficiais e oficiosos, é para ‘monitorar’ o desempenho do governo na área de segurança. Mas, apesar do número elevado de participantes, pelo visto são reuniões bastante produtivas. Tiro pelo seguinte: sempre que esse pessoal se reúne, caem os índices de violência na Paraíba.
Agora, tão proveitosos quanto os eventos palacianos devem ser aqueles encontros na Granja Santana, onde seu majestático inquilino recebe, de uma lingada só, meia dúzia de deputados acompanhada de outro tanto de prefeitos, vereadores e caciques paroquiais, todos absolutamente loucos para aderir ao projeto de reeleição do soberano. Ah, quão produtivas são tais reuniões!
E quando o governador recebe no Palácio, na Granja ou em hotel de beira de praia o seu secretariado ou a sua entusiasmada base de apoio na Assembleia ou seus abnegados correligionários socialistas ou seus aliados fingidos ou seus empresários preferidos ou a gente fina, elegante e sincera – e avulsa – que lhe vai beijar a mão, pedir incentivos fiscais extras, aspones, adjutórios ou qualquer outro favor do poder?

 

Sem limite para os bacanas
Não importando o número de participantes, duvido que não sejam produtivas as reuniões do governante com os seus novos pares ou ímpares, com os quais passou a ter maior afinidade desde a coroação. E o melhor de tudo: nessas audiências, nem o rei nem qualquer nobre íntimo da Corte limita o número de mortais premiados com o privilégio de ficar cara a cara ou lado a lado com Sua Majestade, no mesmo ambiente, com ele dividindo, além dos ideais e interesses, o mesmo ar refrigerado.
Por tudo isso, por essas e outras reuniões (nas quais o governador recebe até dez vezes mais do que a cota estipulada para os trabalhadores sem terra), no começo fiquei sem entender quando li ontem no portal G1 Paraíba um auxiliar direto de Ricardo Coutinho dizendo que ele não pode atender mais de cinco representantes de movimentos sociais. Se passar disso, na lógica do assessor, a reunião se torna improdutiva.

 

Receber pobre seria demais

Depois de ler aquela declaração e de passar na cabeça a fita dos últimos dois anos e nove meses, pude rever algumas parcerias, permutas e alianças que o nosso governador fechou durante esse período e cheguei à conclusão de que é admirável a sua boa vontade de receber cinco pessoas pobres de uma só vez. Sinceramente, pensei que de tão acostumado com o chiquê dos novos tempos o nosso inexcedível governante não receberia um, sequer. Quanto mais cinco…
Ainda mais sabendo que esses pobres vão lá lhe cobrar na lata a falta de palavra ou de compromisso, como aquele de promover o assentamento de famílias pobres de agricultores em terras das Várzeas de Sousa, conforme teria combinado com o Governo Federal, ou de fazer o que o Incra legalmente não pode, que seria comprar determinadas propriedades de tamanho inferior ao módulo rural para nelas assentar quem mais precisa de terra para plantar, colher, viver.

 

O conselho do Super Duda

Sei não, mas se um dia voltar a acreditar que Ricardo Coutinho voltou a ser Ricardo Coutinho, se tiver algum acesso ao homem vou chegar junto só para lhe soprar no ouvido um sábio conselho do amigo Luiz Eduardo, conselho esse que até hoje não tive oportunidade de testar na prática. Mas deve ser bom e apropriado para o governador, porque o Super Duda dizia-me exatamente assim: “Camarada, se não quiser que sua vida vire um inferno, jamais invente de dever a rico ou de prometer a pobre”.


E por falar em promessa…

Médico amigo encontrou Ricardo Coutinho anunciando no jornal do dia 6 de maio deste ano a ampliação da UTI do Hospital Regional de Patos. Passaram-se cinco meses e… Nada! Aliás, essa promessa havia sido feita no ano anterior pelo secretário Valdson de Souza, da Saúde Estadual. Mas outra coisa chamou a atenção do médico nesse jornal, onde uma fotografia mostra o governador apertando a mão de um paciente do HRP: “O governador é formado em Farmácia, mas parece esquecer das normas de infecção hospitalar, pois, considerando que na enfermaria do HRP não há dispensador de álcool-gel, é provável que, antes de apertar a mão do paciente, o governador não tenha higienizado as suas ínclitas mãos e assim ele pode ter contribuído para transmitir e aumentar infecção hospitalar”.