GILVAN FREIRE: A ARENA MORTAL DA DISPUTA EM 2014

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 Se Ricardo Coutinho pudesse ter imaginado como seria a sua reeleição em 2014, possivelmente teria mudado toda a sua estratégia política e administrativa para não terminar os três anos de seu governo como estará terminando daqui a poucos dias. Mudar sua natureza arredia aos afagos humanos e insensível ao sofrimento dos desvalidos, especialmente aqueles que precisam de sua compreensão ou de sua ajuda, certamente não seria de se esperar, porque ele tem o coração blindado, o que os antigos, noutro sentido, chamavam “corpo fechado” – coisa dos devotos da oração de São Cipriano, homens que, metidos no cangaço ou em grandes desavenças, diziam que em seu corpo não entravam balas. Mesmo assim, muitos, por pouca ou nenhuma fé, morreram baleados.

RC avaliou tudo muito mal: tratou a classe política a pontapés; criou o Orçamento Democrático para isolá-la na representação popular; passou a Cássio a impressão de que era maior do que ele; ajoelhou os outros poderes; massacrou todas as organizações dos servidores; desviou-se dos princípios da transparência governamental; privatizou os principais serviços estaduais da saúde; fechou programas públicos de grande sustentabilidade social; realizou negócios escusos com o dinheiro do Estado; e afastou de sua convivência aqueles que o fizeram chegar à prefeitura como o maior passo para se aboletar depois no Palácio da Redenção. Alguém já se deu a pensar como seria a situação dele hoje se não tivesse feito nada disso?

                       Subestimando a opinião crítica e convicto de que o poder pode tudo contra pau e pedra, e de que o principio da autoridade reside na arte de mandar, e não de convencer, RC quis impor a sua natureza contra a natureza dos outros, certamente convencido de que quem tivesse menor força que a sua haveria de submeter-se a seu mando. O que se viu, contudo, na medida em que seu mandato vai cumprindo os últimos atos da tabela oficial de quatro anos, é que o governador não foi capaz de perceber o sentimento popular que se formou em torno de sua imagem, precisamente ao contrario do que ele vinha pensando. Agora, diante do balanço geral e encontro de contas com a população, RC ver o pouco que sobrou da biografia que vinha tentando construir em caráter diferenciado, e, muito possivelmente, pensa em recuar em muitos pontos, ainda que violentando a sua própria identidade. Ele teria de desmanchar sua personalidade e construir outra, mas já é vítima mortal de si mesmo e do tempo que vai o destruindo aos poucos por inteiro.

Tendo uma montanha de problemas pela frente e curto tempo para tirar a montanha do caminho, RC entrou em processo de vaporização, soltando fumaça por todos os poros. Mas, uma de suas maiores aflições é não ter território e tropas para se defender, e nem ter uma cidadela para se abrigar dos exércitos inimigos que atacam de todos os lados, inclusive de seu lado próprio. Cercado pela mesma indiferença que plantou no Estado como grama que se espalha, RC está ilhado na Capital, de onde já partiu armado para vencer inimigos grandes, noutros tempos, embora sob o comando de líderes de maior grandeza. Com tantas adversidades que criou em volta, RC vai atacar Cartaxo, depois de haver acossado Agra sem sucesso. Mas, como se vê, assim como foi da Capital que RC surgiu, daqui ele começa também a sumir, e a razão vai ficando mais evidente: o eleitor de João Pessoa obedece a novas ordens, mais amenas e mais normais. E mais fáceis de se compreender. Mas o palco da maior e mais próxima batalha ainda será aqui.