Não cabe neste honrado espaço enormes e profundas digressões sobre a sociologia política brasileira neste momento. Todavia, parece-nos que é o caso de utilizarmos as “ferramentas” da política para pensarmos um pouco sob a luz da recente aliança Campos-Marina. Ocorre que esta dupla reserva ao eleitorado uma soma inusitada entre o antigo e o moderno que precisa ser deduzida com certa urgência sob pena de a esfinge do eleitorado dragá-los e expeli-los.
Campos, com seus europeus olhos azuis, é homem que denota tradição (o ex-governador Miguel Arraes) e um carisma local (e não nacional). Todavia, falta-lhe o tempero da modernidade na política, aquele que no dizer de Max Weber está ligado ao entendimento mais completo da legalidade formal e dos limites (formais ou não) da democracia.
Marina, de outro lado, tem tradição calcada em luta política, é abastada de carisma pessoal e apega-se a visões de mundo estruturadas de forma ideal e, às vezes, um pouco distante da realidade objetiva. Saiu da floresta e provou-se astuta na associação que fez, mas ainda persiste em seu discurso certo exagero onírico.
Campos-Marina, enfim, não é uma combinação tal qual feijão com arroz. Está mais para uma mistura tropicalista, onde ele pensa no casamento e ela saboreia um açaí.
Campos-Marina : Moderno-Arcaico – 2
Se as diferenças de Campos e Marina são notórias, estas serão bem mais exploradas pelos seus opositores que os poços de petróleo de Eike Batista. Logo, por dedução lógica-política, é melhor mostrar logo para o respeitável público como a equação funciona entre os dois, sob pena de esta parceria virar inequação e terminar esquecida em algum lugar inabitado da Amazônia.
Para Marina cabe sair do respeitado discurso sobre a vocação política para a ação política concreta, dizer aquilo que vai fazer. Eduardo Campos terá de fazer que o leito do PSB, tão assoreado por nada ortodoxas alianças políticas, sobretudo nos Estados, não vire um atoleiro onde não andarão juntos a pureza ideal da política de Marina e o necessário pragmatismo na ação política.
A dúvida sobre a “cabeça de chapa” vai ficar até que se saiba sobre os efeitos externos desta surpresa política. Internamente, não há nada mais perigoso que as vaidades reinarem e desunirem o partido que já era um composto complexo e que sofreu mais uma mutação genética jamais vista nas últimas décadas no Brasil no âmbito formal dos partidos políticos.
Campos-Marina: Moderno-Arcaico – 3
O programa de rádio e TV da nova dupla dinâmica da política brasileira, na última semana, foi bom para tratar não apenas das aparências, mas também começar a falar concretamente a que veio. Pareceu sincero e trouxe até alguma felicidade frente à tremenda chatice que, em geral, se vê.
Daqui por diante, porém, será essencial que se saiba mais sobre o que pensam Campos e Marina sobre a economia, a política, a educação, a saúde, etc. Sumir de cena para realizarem os “debates com as bases” sobre o que deve ser feito se constituirá enorme erro de estratégia porquanto dará tempo para que os adversários se recoloquem para destronar a vanguarda que Marina-Campos (nessa ordem) criaram.
Política é liderança, e não pode ser guia o “curtir” do Facebook com todo o respeito que as tais redes sociais merecem. Esta coluna não é afeita a “conselhos”, mas a nossa melhor análise leva a crer que o eleitorado gostará de ver algo novo no ar, mas quer saber como a vida concreta de cada um vai ser afetada.
Campos-Marina criaram riscos enormes à frente, mas há de se reconhecer que abriram horizontes no céu da triste política brasileira.
José Márcio Mendonça e Francisco Petro, Blog Política & Economia Na Real
José Márcio Mendonça, jornalista e Francisco Petros economista.