Sandra Starling
Um dos problemas de que hoje, só hoje, infelizmente, me dei conta é o das aposentadorias. Que não é um problema só no Brasil, mas no mundo todo. De um lado, a curva etária vai se modificando e daqui a pouco teremos mais velhos que jovens. Eu mesma já estou prestes a fazer 70 anos. Como o desemprego campeia entre aqueles que estão na faixa dos 18 a 25 anos (lembro-me do fracasso do programa Primeiro Emprego, do começo da era Lula, quando eu, inclusive, ainda acreditava e militava no PT) e como esse não é um fenômeno dos emergentes nem da velha Europa, penso que, mesmo atrasada, preciso dar ou tentar dar uma contribuição.
Fui daquelas que, como o senador Paim, sempre julguei um “direito adquirido” e inegociável a aposentadoria. Claro que, como advogada, sabia e concordava com a aposentadoria diferenciada, por exemplo, para aeronautas ou trabalhadores de minas subterrâneas. Mas nunca pensei que deve ser diferenciada a aposentadoria dos trabalhadores manuais – tout court – e os trabalhadores intelectuais. Nem concordei com as várias tentativas de aumentar, pura e simplesmente, a aposentadoria compulsória ou expulsória dos funcionários públicos, julgando tais reivindicações como “corporativistas”. Hoje me arrependo e arrependo, sobretudo, porque poderia ter apresentado projeto, ou iniciado discussão sobre essa questão, quando era deputada federal. Hoje, só me resta escrever a respeito…
Penso que a aposentadoria dos trabalhadores intelectuais deveria ser “lenta, gradual e segura” para ajudar a superar um dos maiores problemas do Brasil. Nossos jovens saem crus das universidades, escolas ou cursos profissionalizantes. Em compensação, é um tormento indescritível ficar confinado em casa – aposentado: quem fica num aposento – para os que ainda poderiam estar trabalhando, não, é claro, com uma jornada igual aos jovens, nem com o mesmo salário, mas que poderiam estar formando a nova mão de obra das universidades, das repartições públicas, do setor administrativo das empresas, se a aposentadoria fosse uma combinação de diminuição de jornada, diminuição proporcional do salário mais proventos da aposentadoria e preparação das novas gerações por aqueles que têm experiência.
Eu mesma já não aguento fazer cursos (ótimos, mas sem muito sentido porque, ao que eu saiba, não há necessidade de curriculum nem pro céu, nem pro purgatório, nem pro inferno). Mas poderíamos, muitos de nós, ajudar a formar a mão de obra qualificada de que o Brasil anda precisando. Poderíamos atuar como formadores de mão de obra de “chão de fábrica” em um novo conceito de “chão de fábrica” e pouparíamos proventos e diminuiríamos o malfadado e manipulável custo Brasil com ganhos para todos.
Tenho certeza de que nós – os velhos – nos sentiríamos mais úteis, e vocês, mais jovens, menos inseguros.
Que pensem nisso os que agora são “autoridades”, os que podem mudar as leis. Ou, como diria o papa Francisco: que as sociedades saibam não descartar nem os mais velhos nem os mais jovens.