RECIFE – Crítico ao que chama de “política mofada” e das “raposas” do cenário nacional, o governador de Pernambuco e presidenciável Eduardo Campos (PSB) segue em casa a lógica tradicional. Dono de uma coligação de 14 partidos, Campos aloja em sua administração os aliados que o ajudaram na eleição de 2006 e na reeleição em 2010.
O presidente nacional do PSB, que prega ter chegado “a hora de aposentar um bocado de raposas que já encheram a paciência do povo brasileiro”, governa ao lado de aliados como o deputado federal Inocêncio Oliveira (PR), o ex-presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcanti e quadros oriundos do PFL, como o ex-governador Joaquim Francisco, convertido por Campos ao socialismo ao ser indicado suplente de senador pelo estado.
Para derrotar Mendonça Filho, à época no PFL, na disputa pelo governo do estado em 2006, o candidato Eduardo Campos aceitou dar a Inocêncio Oliveira as duas secretarias negadas pelo adversário, então vice-governador de Jarbas Vasconcelos (PMDB). Como prêmio por ajudar a tirar Campos do isolamento no início da campanha, Inocêncio nomeou um aliado na Agricultura e o primo Sebastião Oliveira, então deputado estadual, para a pasta de Transportes.
No atual governo de Campos, o PR de Inocêncio Oliveira controla a Secretaria de Turismo, com o deputado estadual licenciado Alberto Feitosa. No segundo escalão, o PR administra o Porto do Recife, com Rogério Leão.
O PSD de Gilberto Kassab assumiu o Instituto de Recursos Humanos. O partido foi criado com a ajuda de Campos. O PP de Severino Cavalcanti, ex-prefeito de João Alfredo, comanda a Secretaria de Esportes, com a indicação da filha Ana Cavalcanti.
Já o PTB, de Roberto Jefferson, comandado em Pernambuco pelo senador Armando Monteiro, controlava até sexta-feira, quando devolveu os cargos, a Secretaria de Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo e o Detran local.
Leque de alianças garante controle absoluto da Assembleia
O PT também é sócio do condomínio socialista até agora e cuida da área cultural, com a Fundarpe. Até semana passada, geria a pasta de Transportes.
— Eduardo, inevitavelmente, vai ter um conflito com o que prega Marina e o que ele faz aqui. Ele condena a entrega de fatias de governo no plano federal, mas faz o mesmo aqui. Ele fatia o governo e entrega para as forças mais conservadoras. Não existe raposa política que não tenha um cargo no governo — diz o líder da oposição na Assembleia Legislativa, deputado Daniel Coelho (PSDB).
— Eduardo utiliza de cooptação, fatiando o governo com as figuras políticas mais atrasadas, sem distinção ideológica. A política dele é antiga aqui — acrescenta Coelho.
‘Oposição é bem-vinda’
O líder do governo na Assembleia, Waldemar Borges, defende Campos e diz que a “turma da velha política” jamais vai compreender como se garante o respeito à pluralidade sem perder o rumo estratégico.
— Não há espaço para um milímetro de desvirtuamento do que foi pactuado em praça pública, sobretudo no que diz respeito ao compromisso de levar Estado para quem mais precisa de Estado — afirma o aliado do governador, ressaltando que até a oposição é bem-vinda, se tiver algo a acrescentar.
Campos nomeou até um ex-deputado estadual do PSDB, único partido que lhe faz oposição, Pedro Eurico, como secretário da Criança e Juventude. A força gravitacional do governador é tão grande que inclusive o PMDB do senador Jarbas Vasconcelos aderiu ao governo na última eleição municipal, quando o prefeito Geraldo Júlio (PSB) assumiu o poder no Recife. O PMDB indicou cargos no governo municipal e ainda negocia participação na chapa majoritária de 2014, com uma possível indicação do deputado federal Raul Henry para vice-governador.
Com um leque tão grande de alianças, Campos domina a Assembleia Legislativa (Alepe).
— Há um clima de terror. Os deputados e os prefeitos têm medo do coronel moderno, que controla a Alepe e o TCE — conta a deputada estadual tucana Terezinha Nunes.
A oposição se resume a quatro deputados do PSDB. Com a saída anunciada de PT e PTB, o quadro começa a mudar.
— Agora, sim, poderemos ter uma oposição de verdade e forte — acredita Terezinha Nunes.
* Especial para O GLOBO