GILVAN FREIRE: MUDANDO DE ASSUNTO. PARA OS MESMOS ASSUNTOS

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Fiquei de falar sobre o Mercado Negro dos partidos políticos, cuja última edição para os próximos dois anos encerrou-se na sexta-feira da semana passada. O Mercado Negro diferencia-se dos mercados comuns porque seus negócios são clandestinos, a população não pode saber como foram realizados os negócios: os preços sugeridos, as propostas dadas, e as compras e vendas fechadas. Há sigilo sobre a essência das negociações: o preço efetivamente pago, quem paga e a forma, prazo e a moeda de pagamento. Em nenhum caso, já se sabe, o dinheiro é limpo, porque quando não sai diretamente do Tesouro público, indiretamente vem dele. Nos últimos tempos, isso virou normalidade da vida democrática brasileira. Já faz parte do processo.

Fora do Mercado Negro, há o Mercado Persa, menos sigiloso e mais aberto à população. Ali as ofertas podem ser públicas e, via de regra, a adesões aos governos, trocando apoio por cargo e empregos, de preferência cargos que mexem com muito dinheiro. Mas isso já é aceito pela própria sociedade, que nem estranha nem refuta, embora também por causa disso ache que os políticos são uns saltimbancos (pessoa não digna que muda constantemente de opinião). Alguém mais irritado pode querer chamar de salteador (que ou qualquer que salteia; assaltante; aquele que assalta nas estradas). Pior ainda se, mais tarde, quiserem chamar de assaltimbancos, uma corruptela para designar aqueles que assaltam os cofres públicos.

Mercado Persa, o mais variado dos mercados é a denominação que vem de um imenso espaço livre de comercialização situado em Santiago do Chile, entre as ruas de Bío Bío, Placer e Victor Manuel, região do antigo matadouro Franklin, hoje estação do metrô. Chama-se Mercado Persa de Bío Bío, onde tudo se vende fora os políticos latinos, porque, nos anos 1930, quando ele surgiu, os políticos do continente não eram produtos tão ordinários como são hoje. Mas o nome mesmo deve ter origem na Pérsia Antiga, lugar histórico da mercancia e suas feiras de produtos multiuso.

Mas, quais são as principais mercancias da feira persa terminada semana passada no Mercado Livre, embora clandestina da Paraíba? Quais os principais produtos e seus preços? Bem, os produtos vendáveis são os de sempre: os políticos, de modo especial, os detentores de mandato. Os preços são variáveis, dependendo da importância do mandato e ao que se preste o mandatário, mas, conforme o partido, pode receber dinheiro em espécie para financiar a eleição do adesista maior e distribuição de menor quantia aos do baixo clero. Pode mudar de lado com relação ao governo do Estado e obter novo adjutório financeiro, e ainda pode se fazer de independente, para construir posteriormente as alianças de adesão. Mas, um dos maiores preços ofertados, afora empregos e cargos, é para a compra de horário eleitoral no rádio e na televisão, negócio remetido ao período das convenções, na tabela da ocasião e da necessidade de quem compra. É uma fábula de dinheiro público desviado dos fins sociais mais dramáticos: saúde, educação, miséria e segurança. Agora, água de subsistência humana e animal. Por fim, uma advertência aos que não se vendem: nesse mercado não se comprará a vergonha dos homens públicos: ela não vale uma pataca sequer, diferentemente dos partidos e seus donos, que valem uma fortuna.