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O roque preserva o rei mesmo sacrificando a rainha

Carlos Chagas

O Lula sentiu-se traído, mais por Eduardo Campos do que por Marina Silva. Acusou o golpe como um “direto no fígado”. Afinal, o ingresso da ex-ministra e senadora no PSB será capaz de levar a reeleição de Dilma para o segundo turno, onde tudo pode acontecer. Caso Aécio Neves venha a ser o segundo colocado, para onde irão os votos de Marina, mais fartos que os do governador de Pernambuco, quando supostamente somados? Na hipótese de Eduardo Campos passar para nova votação, em quem votarão os tucanos?

Sendo assim, duas alternativas se abrem: o empenho cada vez maior do ex-presidente na campanha pelo segundo mandato da sucessora, visando ainda decidir a sucessão no primeiro turno, ou…

Ou ceder aos apelos de parte do PT para tornar-se candidato, ano que vem. Claro que tudo dependerá dos próximos lances desse complicado xadrez. A rainha dos companheiros dispõe de uma série de iniciativas, por enquanto mais desenvoltas que as do rei. As torres parecem solidas em sua defesa, os peões existem para o enfrentamento. Se um bispo bandeou-se para o adversário, restarão os cavalos. No caso, aqueles que imaginam sacrificá-la para salvar o rei.

O tabuleiro continua pleno de peças, apesar do primeiro movimento do contendor. A aliança de Marina com Eduardo Campos demonstrou ser a partida complicada. Imagine-se uma aproximação do PSBD com o PSB, caso Aécio Neves ou mesmo o bispo negro, José Serra, decidam-se pela formação de uma frente ampla contra o PT. Será a hora de engolir peões, de um lado e de outro, do tipo PR, PP, PDT e PTB. Poderão Dilma ou Lula confiar neles? Às custas de mais fisiologismo, capaz de desgastar a frágil confederação celebrada em torno do poder? Falta verificar o PMDB, aquinhoado com a vice-presidência na chapa oficial mas insatisfeito com os espaços que possui, exigindo aumentar sua presença nos quadrados da equipe governamental.

Em suma, é no tabuleiro que se decidem os embates, mais do que nas expectativas dos contendores. Será preciso, acima de tudo, prestar atenção no roque, aquela manobra tão a gosto dos mestres do xadrez, adotada sempre que o rei se encontra em perigo. Para preservar o poder, quem sabe melhor blindar o rei e preservá-lo para a vitória, mesmo com o sacrifício da rainha?

SE ARREPENDIMENTO MATASSE

Nas eleições para prefeito de Recife o Lula abandonou Humberto Costa, do PT de Pernambuco, para privilegiar o candidato de Eduardo Campos. Foi a única capital onde o ex-presidente não apareceu na televisão pedindo votos para um companheiro. Agora deve estar arrependido. Tudo indica que o PT prepara o contra-ataque, capaz de expressar-se através de acusações ao governador de Pernambuco por ingratidão. De longe, foi aquele que no Nordeste recebeu mais verbas e favores do governo federal. Nos governos Lula e Dilma, acrescente-se. Para quê?

EM QUEDA LIVRE

Primeiro foi o governo Barack Obama flagrado espionando a presidente Dilma, a Petrobras e outras empresas. Agora o Canadá é acusado de espionar o ministério de Minas e Energia do Brasil. Do jeito que as coisas vão, logo Bonga-Bonga merecerá restrições por andar buscando segredos da ilha de Paquetá, na baía da Guanabara…

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