GILVAN FREIRE: UMA VOLTA PELO MERCADO NEGRO DOS PARTIDOS

“Ninguém compreende como se consegue um surto tão grande de desenvolvimento econômico com um nível tão baixo de prática política”

Entre os sociólogos e pensadores políticos do Brasil há um desânimo completo sobre as perspectivas do país para os próximos anos. Ninguém compreende como se consegue um surto tão grande de desenvolvimento econômico com um nível tão baixo de prática política. Para todos é um verdadeiro milagre a democracia brasileira funcionar através de instituições tão fragmentadas do ponto de vista moral, sem uma reação popular, pois as liberdades públicas são plenas e o povo tem um razoável nível de consciência social. Não se trata mais de uma nação atrasada, ilhada no desenvolvimento do mundo contemporâneo. Ao contrário, somos uma das finas flores do capitalismo global (6ª economia do mundo) e um dos paraísos do universo Web, a maior central da informação e do conhecimento no Planeta, muito embora ainda se conviva com imensas mazelas, ainda não debeladas.

Como se explicar então que um povo em fase de extraordinários avanços em todas as lateralidades se subjulgue ao pauperismo moral que infesta em maior ou menor proporção todas as instituições do Estado, especialmente os três poderes da tripartição democrática? Como se aceitar passivamente que a imoralidade e a indecência ocupem o lugar da moral, gerando a desmoralização de todos? Como se pode chegar a esse maldito pacto de concupiscência (desejo libidinoso, cobiça de bens materiais) pelo qual malfeitores e vítimas se entendem a fim de instaurar a sodomia dos costumes e implantar a república do pode tudo a qualquer preço?

Se é verdade que, de tanto aceitar, a sociedade está perdendo a capacidade de reagir aos desmandos e indignar-se contra a degradação moral de sua classe dirigente, mais deprimente verdade é ver-se que a situação não chegou ainda aos limites máximos da tolerância do povo, nem da capacidade desafiadora dos agentes políticos em seus impetuosos e corajosos atos de escalada abaixo rumo ao pântano das imundices, onde estão depositados a vida pública brasileira e seus figurantes.

Semana passada terminou mais um festival de promiscuidade que assola o país e enxovalha a alma de um povo que não se dá conta de seus atos de aceitação pecaminosa e conivência criminosa. A transfugagem (deserção de um lado para servir ao lado oposto), foi imensa, ou de forma escancarada, ou de forma ainda escamoteada, dissimulada e disfarçada, mas a política e os partidos políticos e seus membros estiveram em festa. Abriu-se e já encerrou a temporada de feira no Mercado Persa, onde se vende de tudo, de luxo a lixo. Talvez seja melhor chamar a isso de Mercado Negro, onde de tudo também se vende, mas clandestinamente. No próximo artigo contarei como funcionam esses Mercados na Paraíba.