Dois perdidos num partido abandonado
Carlos Chagas
Perderam todos. Marina Silva, duas vezes: queria candidatar-se à presidência da República, abandonou a meta quando a Rede se viu garfada e agora, ao entrar no Partido Socialista, aceitou o rebaixamento para disputar a vice-presidência. Eduardo Campos, obrigado a antecipar sua candidatura ao palácio do Planalto sem dispor de condições para recuar, torna-se antes da hora o alvo prioritário do PT. Aécio Neves também perde, por conta da redução de espaços para manobrar na disputa. E Dilma Rousseff.
Dilma Rousseff? Claro, dado que as nuvens carregadas do segundo turno pairam sobre o palácio da Alvorada, podendo gerar o relâmpago chamado Lula.
A indecisão da ex-senadora e ex-ministra em aderir ao PSB evidencia fraqueza. Precisou varar madrugadas, sem se definir. Se por hipótese na chefia do governo,demonstraria a mesma hesitação diante de alguma crise? A Rede era sua proposta para mudar a política nacional. Em vez de insistir na nova legenda, embarca em outra, dando a impressão de que seu real objetivo é derrotar o PT, muito mais do que criar uma nova alternativa de governo.
Socialista, Marina nunca foi. Como Eduardo Campos também não, a impressão que se tem é de dois perdidos num partido abandonado. Ou alguém já ouviu deles propostas de socialização dos meios de produção, de participação dos empregados no lucro das empresas, de cogestão, distribuição da terra, estatização do ensino e dos transportes públicos?
O governador de Pernambuco já parecia um conteúdo totalmente diverso do rótulo, acontecendo o mesmo com Marina Silva. Resta saber o projeto de país a ser por eles apresentado.
Engana-se quem supuser que os 20 milhões de votos dados a Marina nas ultimas eleições subirão para Eduardo Campos. A última vez que se votou para vice-presidente da República foi em 1960, quando João Goulart bateu Milton Campos. De lá para cá, assumindo ou não assumindo, os vices perderam a importância.
Está sendo de frustração o sentimento registrado na maioria dos seguidores de Marina Silva. Os que são parlamentares adotam a máxima do indigitado coronel Tamarindo quando derrotado pelos caboclos de Antônio Conselheiro: “Em tempo de murici, cada um cuide de si”. Os que admiravam a amazônida sem ser políticos, preferem acordar.