Temos progresso, falta ordem
Carlos Chagas
É inegável que o país cresceu e continua crescendo. Rotule-se de progresso, como nos idos da proclamação da República, ou desenvolvimento, palavra inventada nas décadas seguintes. A verdade é que a nação progrediu materialmente, ainda hoje progride no campo social. Nada a opor, muito pelo contrário.
Agora, em termos de ordem, ou se quiserem, de segurança, nada feito. Raras vezes verificamos tanta insegurança e tanta desordem. Falta autoridade pública entre nós. Cada cidadão sente-se acuado e desamparado. O poder institucionalizado omite-se, quando não se mostra inoperante.
Há tempos que índios de verdade ou fajutos perturbam Brasília e suas instituições, mas não ficam apenas na capital federal, onde, dia sim, outro também, invadem o Congresso. Também ocupam a avenida Paulista e fecham rodovias no país inteiro, tomam próprios estatais e propriedades privadas como se dispusessem de habeas-corpus preventivos para quebrar a lei. Merecem todos os cuidados como comunidades sofridas e abandonadas, tem sido atendidos numa série de reivindicações mas nada lhes dá o direito de quebrar a paz pública.
Professores tem sido humilhados e desprezados, cabe-lhes a prerrogativa de entrar em greve e protestar por salários menos aviltantes. Só que não dá para aceitar o que estão fazendo, nem vê-los permitir que vândalos façam, sob sua proteção. A baderna continuada nas ruas do centro do Rio de Janeiro prejudica a cidade inteira, sem falar nas crianças sem aula e nos pais envolvidos na deletéria opção de deixá-las sozinhas em casa ou deixar de trabalhar.
Os bancários estão parados. Nada mais justo do que se insurgirem contra as migalhas recebidas dos bancos milionários, mas a paralisação que se estende por todo o país pune acima de tudo o cidadão impossibilitado de pagar contas e saldar dívidas, recebendo multas implacáveis impostas até pelo próprio Estado que deveria protegê-lo.
Os transportes públicos continuam lamentáveis. Apesar dos protestos iniciados em junho, as greves sucedem-se de Norte e Sul, muitas vezes gerando a violência dos usuários, tornando-se estes os mais prejudicados. Ônibus incendiados, trens depredados, metrôs interditados com suas estações apedrejadas – quem sofre é o trabalhador que paga impostos.
Há quantos dias os Correios estão em greve? Montes de correspondências essenciais vem sendo negada aos destinatários, com consequências lesivas ao seu patrimônio e às suas relações. Tem os funcionários razão em cruzar os braços? Claro, mas que providências tem sido tomadas?
O leitor poderá alinhar mil outras perturbações que assolam sua vida nas capitais estaduais, sem esquecer as cidades ao seu redor. Os encarregados de garantir a ordem, onde estão? Vão dizer que cuidam do progresso?
CONSTATAÇÃO
Sem emitir juízos de valor, Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, acertou na mosca: seus colegas Teori Zawaski e Luís Roberto Barroso estão trazendo mudanças nas decisões já tomadas no julgamento do mensalão. Uma delas é a preservação dos mandatos de parlamentares já condenados. A perda de direitos políticos não determina mais a cassação automática. Cabe ao Congresso cassar os condenados. “Caminha-se para a absolvição, há decepção na sociedade” completou o ministro.