Opinião

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Rua Miguel Couto - Por Sérgio Botelho

Levando em conta que a rua Padre Meira, para ligar a Duque de Caxias ao Parque Solon de Lucena, tem de se valer do Ponto de Cem Reis

PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Rua Miguel Couto - Por Sérgio Botelho

Levando em conta que a rua Padre Meira, para ligar a Duque de Caxias ao Parque Solon de Lucena, tem de se valer do Ponto de Cem Reis, assim como a Barão do Abihay/Eliseu César, somente chega à Lagoa após a Praça Rio Branco, a Avenida Miguel Couto é a única que conecta diretamente a velha rua Direita ao parque que sediou a antiga Bambu e o revisado Cassino de Verão – e, agora, da Festa das Neves, em sua parte profana.

A marca principal da via continua sendo, por herança várias vezes secular, a vetusta Igreja da Misericórdia, da qual já falamos tanto, na esquina com a Duque de Caxias, principalmente por ser um marco original da cidade. Ao longo do tempo, a Miguel Couto abrigou endereços muito festejados pela população pessoense.

É possível citar o Restaurante Lido (embora na Duque de Caxias, mas de frente para a Miguel Couto, onde hoje se encontra o Shopping Terceirão), a Sorvelanches 36, um moinho do Café Alvear, o Foto Condor, de Ariel e Arion, o velho Hospital de Ponto Socorro, pertencente à Assistência Pública Municipal, além de icônicas barbearias que faziam a cabeça de meninos, adolescentes e homens feitos na capital paraibana.

Em tempos mais antigos, na esquina da Miguel Couto com a Visconde de Pelotas, funcionou por algum tempo, o jornal A União. Nas décadas de 1970, 1980 e 1990, também fixou endereço na Miguel Couto a inesquecível farmácia de “Seu” Teixeira, do lado esquerdo de quem desce para a Lagoa, farmacêutico altamente respeitado na cidade, e ainda carente de homenagens mais perpetuadoras de sua existência.

O homenageado com o nome da via, um renomado médico, professor universitário e político fluminense, cujo nome completo era Miguel de Oliveira Couto, assumiu o status por decisão do prefeito Walfredo Guedes Pereira (que também era médico, e formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro), em 19 de agosto de 1935, por meio do decreto 338, publicado na edição de A União do dia seguinte.

Segundo justificava o prefeito, “como expoente máximo da medicina brasileira e grande patriota, {Miguel de Oliveira Couto} não pode ficar olvidado em nosso meio”. Antes, em 13 de junho de 1934, a Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba mandou celebrar uma missa “pela alma do professor Miguel Couto”, na Igreja do Carmo, oficializada pelo próprio arcebispo Dom Adauto.

Realmente, tinha prestígio nacional o professor Miguel de Oliveira Couto, nascido no Rio, em 1º de maio de 1864, e falecido, também no Rio, em 6 de junho de 1934, após ter presidido por 21 anos consecutivos a Academia Nacional de Medicina. De 1919 à data de sua morte, ocupou a cadeira 40 da Academia Brasileira de Letras, na condição de “poliglota e profundo conhecedor da língua portuguesa”, conforme ressalta sua biografia no site da ABL.

Couto, forte defensor da criação do Ministério da Educação, concretizado no Estado Novo, foi eleito deputado na Assembleia Nacional Constituinte de 1934, onde teve a oportunidade de influenciar o texto da nova Constituição brasileira. Durante o mandato, defendeu ideias relacionadas com educação e saúde, mas também expressou opiniões controversas sobre temas como raça e imigração (era taxativamente contra a imigração japonesa), que hoje são consideradas segregacionistas e racistas, de acordo como que está anotado na biografia exposta pela Academia Brasileira de Letras.

Por sua contribuição à medicina, instituições de saúde no Brasil levam seu nome, como é o caso do famoso Hospital Miguel Couto, no Rio. Atualmente, a rua Miguel Couto inclui um viaduto, o Terceirão, construído pelo prefeito Dorgival Terceiro Neto, na década de 1970, que a liga diretamente à rua Cardoso Vieira, na cidade baixa, via obrigatória para os ônibus que se destinam ao Terminal de Integração, no Varadouro.

(Na foto, a Avenida Miguel Couto, tendo ao fundo o Parque Solon de Lucena. No primeiro plano, à direita, a parede lateral da Igreja da Misericórdia).

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba