Por Rubens Nóbrega
Algo de muito errado acontece com o governador Ricardo Coutinho. Não é normal um governante ser vaiado quando inaugura ou anuncia obras, a exemplo do que teria acontecido na última sexta-feira, em Bayeux, e ontem, em Santa Rita.
“Ô povo ruim!”, disse ontem Gosto Ruim, referindo-se aos vaiadores que, segundo ele, seriam obra da oposição e de um improvável “fogo amigo”. Perguntei quem teria disparado esse fogo e ele me respondeu com duas perguntas:
– Você acha que somente à oposição interessa manter e aumentar o cartaz de Ricardo Coutinho como governador impopular? Você não acha que essa impopularidade ajuda na hora de um aliado justificar o rompimento com o homem?
Evidente que não tenho respostas para tais questionamentos nem me interessam. O que sei e vejo é o governador empenhado em milionário roteiro propagandístico-publicitário para fazer imagem e recuperar popularidade com vistas à campanha de 2014.
Não fosse assim, o homem não teria montado palanque – como fez ontem em Santa Rita – para anunciar a licitação pública que deverá escolher a empresa encarregada de construir o Hospital Metropolitano de Santa Rita.
Publicar edital bastaria
Em condições normais de temperatura e pressão, ou seja, se tivéssemos um governante de baixa rejeição, bastaria dar publicidade legal à abertura do processo licitatório. A questão seria resolvida com a publicação de edital no Diário Oficial do Estado e em jornais de grande circulação, como manda a lei (Lei 8.666/93) que rege a matéria.
De qualquer modo,compreendo o esforço do governador para transformar atos comezinhos de administração em eventos públicos de impacto, sobretudo midiático. Mais do que nunca, ele precisa de uma interpretação convincente no papel de gestor operoso, inclusive para se livrar da fama de canastrão que motivaria os apupos da claque irreverente.
Questão não esclarecida
Por outro lado, de qualquer sorte o anúncio de ontem é repeteco do que o governador Ricardo Coutinho fez em novembro do ano passado, quando adiantou que faria licitação para construir um hospital metropolitano nos moldes dos quatro construídos no Grande Recife pelo governador Eduardo Campos, de Pernambuco.
Outra coisa de que lembro a respeito do assunto é ter publicado alguns dias após o primeiro anúncio que o projeto do hospital de Santa Rita já teria sido contratado pelo Governo do Estado. Sem licitação. E a empresa contratada seria nada menos que a Schahin, a mesma que construiu os metropolitanos do governo pernambucano.
A denúncia dessa contratação feita em tese ao arrepio da lei encaminhei por i-meio no dia 17 de dezembro de 2012 ao governador Ricardo Coutinho e aos secretários Luzemar Martins (Controladoria Geral), Estelizabel Bezerra (Comunicação) e Ricardo Barbosa (Suplan).
Além do i-meio, avisei através do Twitter ao @realrcoutinho e a @Estelizabel sobre o encaminhamento do material, instruído com necessário pedido de esclarecimentos. Ainda tive o cuidado de avisar o Doutor Ricardo Barbosa por telefone. Até hoje aguardo por uma resposta. Do governador ou de algum secretário.
Custo da obra pode subir
Por essa que acabei de contar e tantas outras que sei e ainda não contei, não tenho como não arriscar um palpite: a Schahin deverá ser a vencedora da licitação e, portanto, a construtora do Hospital Metropolitano de Santa Rita, um investimento de R$ 63 milhões que pode muito bem, no correr da obra, subir o preço para mais de R$ 80 milhões.
A previsão foi feita pelo mesmo Gosto Ruim, lembrando o que ocorreu com duas outras obras tocadas por Ricardo Coutinho: a Estação Ciência do Cabo Branco, orçada em R$ 13 milhões e que no final teria custado mais de R$ 50 milhões, e o Centro de Convenções, que deveria ser concluído por R$ 110 milhões e já estaria batendo na casa dos R$ 250 milhões.
Manifestações em série
Domingo último foi a vez de ciclistas de João Pessoafazerem manifestação contra a violência e a falta de segurança na Paraíba que também atinge – e muito – quem faz pedal por lazer ou necessidade de deslocamento barato e saudável para o trabalho.
Não se espantem se no próximo domingo ocorrer um protesto dos portadores de celular que foram vítimas de assalto, mas seguramente não dão queixam à Polícia, em sua maioria, e com isso ajudam as estatísticas que servem à propaganda de governo.
Já no segundo domingo seguinte ao próximo não se admirem se as ruas da Capital ou de Campina forem tomadas por frentistas e donos de postos de gasolina que já não aguentam mais ser assaltados e, em desespero, estariam apelando para que os ladrões fundem um sindicato com o qual possam celebrar convênio ou pacto para reduzir os ataques a um por mês.
Na sequência estão previstas manifestações das vítimas de saidinha de banco, de sequestros relâmpagos, de assaltos a ônibus, a farmácias, padarias, lanchonetes, caixas eletrônicos, salões de beleza, igrejas, escolas, consultórios médicos…