Por Rubens Nóbrega
Há mais de dois anos sem um namorado pra chamar de seu, Josely começou a desconfiar da sua capacidade e – ainda mais – de seu potencial e possibilidades de encontrar alguém com quem ficar pro resto de uma vida a dois.
Sinto-me um tanto responsável pelo encalhe de Josely, amiga desde os tempos de ginásio em Bananeiras. Nossa amizade ficou abalada três meses atrás, quando tentei lhe arranjar um companheiro que no final revelar-se-ia um concorrente.
Acredito que a moça ficou tão traumatizada depois do fracasso da minha Operação Cupido que, para superar o trauma, resolveu pedir ajuda divina, segundo ouvi dizer numa roda de papo de amigos comuns.
“Só Jesus (me) salva”, deve ter pensado Josely, que já se aproxima dos quarenta e sabe muito bem: mais um pouco e os poucos atributos físicos que lhe restam, em especial os superiores, começarão a sentir o peso e os efeitos da gravidade.
Daí compreender perfeitamente o desespero com que Josely retomou a busca por alguém com quem partilhar afetos e rotinas. Afinal, não é fácil aguentar um cotidiano de solidão que já já alcança o terceiro ano de seca, feito estiagem no Sertão.
Assim, sem mais condição de ‘ficar escolhendo’, minha amiga não pensou duas vezes quando recebeu convite de uma colega de trabalho, Rosário, para assistir ao culto em uma igreja recém inaugurada no bairro onde as duas moram.
“Vai que pinta um irmão pintoso…”, disse pra si mesma, de mãos postas e olhos fechados, após confirmar para Rosário que não apenas iria como já vinha refletindo sobre abraçar uma nova crença. Foi.
Foi e assistiu e orou e cantou com tamanho fervor que deixou a colega certa de ter conquistado mais aquela ‘ovelha’ para o rebanho do Pastor Delcídio.
– E aí, Josely, gostou do Pastor? – perguntou Rosário, ao término da celebração.
– Ah, o pastor? Maior gato… Nossa, menina, e como ele fala bem.
– Vôte, mulher! E eu pensando que tu estavas se sentindo tocada…
– Como, menina, se ele estava lá no palco e eu aqui, contigo!
***
Depois daquela, Josely nunca mais pisou os pés na igreja de Rosário, que até deixou de falar com a colega na loja de meias e roupas íntimas onde trabalham. Quer dizer, trabalhavam. As duas foram demitidas semana passada.
A demissão de Josely, pelo que soube, aconteceu porque teria entendido mal o chiste de um cliente chamado Chico Saraiva que esteve lá no meio de semana para comprar umas meias.
Com o movimento ‘meio parado’ naquele dia, sem ter vendido um real durante toda uma manhã, ela desdobrou-se para convencer o cidadão a levar uns dois ou três pares. Mas, concluída a venda, inventou de perguntar ao freguês se ele não gostaria “de ver umas cuecas”.
– Cueca não, moça, mas uma calcinha… – respondeu o cliente, com voz um tanto melíflua, parecendo mesmo insinuar-se para a vendedora, que não contou conversa:
– Vamos aqui, no provador, que eu mostro pro senhor – chamou Josely, puxando Saraiva pelo braço na direção de um biombo que julgava estar tão vazio quando a loja, àquela hora.
Quando ela abriu a porta, o grito que veio lá de dentro chamou a atenção até da gerente, que se encontrava no fundo da loja e veio de lá correndo ver o que estava se passando no provador masculino.
Quem gritou foi Rosário, surpreendida pela colega no exato momento em que ajudava um rapaz a provar uma cueca.
Cupom Legal na InternetSemana passada, pessoa da minha família encontrou um código numa tampinha de refrigerante e me pediu para inscrever o seu achado no Domingão do Faustão, que sorteia caminhões carregados de prêmios. Busquei na Internet e achei um saite exclusivo para atender a quem consome os produtos do patrocinador da premiação, à qual os interessados podem concorrer tanto enviando o código da tampinha através de mensagem por celular (SMS) como cadastrando o mesmo código no sítio da promoção.
Coincidentemente, naquele mesmo dia fui abordado na rua por um cidadão que me perguntou porque a Campanha Cupom Legal, do Governo do Estado, também não disponibiliza um saite na Internet onde os contribuintes interessados em participar da promoção possam inscrever os cupons fiscais de suas compras para concorrer aos prêmios. Segundo ele, limitada à SMS (ao custo de R$ 31 mais impostos), a campanha daqui só seria boa mesmo para as operadoras de telefonia móvel e os poucos sorteados.
A explicação da Secretaria
Encaminhei à Secretaria Estadual da Receita a sugestão de que seja criado um saite para a campanha do Cupom Legal. Recebi resposta do Corregedor Antônio Geovane da Costa Pontes, nos seguintes termos: “Senhor Jornalista, visando atender ao pedido de Vossa Senhoria, contactamos com membros do Comitê de Administração da Campanha Cupom Legal, de quem obtivemos as seguintes informações: a estrutura do programa é a mesma usada por outros estados, como Rio de Janeiro e Minas Gerais; o objetivo da campanha é a educação fiscal e o exercício da cidadania; houve licitação para contratação da empresa responsável; já houve reclamação de um consumidor em razão do custo do SMS; o custo da campanha para o Estado é zero”.