Opinião

PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS: A rua Padre Meira - Por Sérgio Botelho

A conquista da área hoje belamente estruturada com o nome de Parque Solon de Lucena não foi uma solução fácil no processo de crescimento da cidade de João Pessoa.

PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS: A rua Padre Meira - Por Sérgio Botelho

A conquista da área hoje belamente estruturada com o nome de Parque Solon de Lucena não foi uma solução fácil no processo de crescimento da cidade de João Pessoa.

A antiga Lagoa dos Irerês representava um problema tão sério que, entre o final do século XIX e início do XX, as autoridades já tinham como único remédio possível seu aterramento. Quem solucionou o drama, na década de 1920 (a que registrou as maiores transformações urbanas na capital da Paraíba), representado por aquele verdadeiro charco, produtor de doenças, foi um engenheiro nascido em Campos do Goytacazes, no Rio de Janeiro, chamado Saturnino de Brito, a quem a cidade deve homenagens.

Ao elaborar o projeto de saneamento da cidade da Parahyba, atualmente João Pessoa, ele projetou e construiu, ao mesmo tempo que a rede de esgotos e a de abastecimento d’água, uma galeria subterrânea até o rio Sanhauá, controlando o volume de águas da Lagoa e permitindo sua urbanização.

Ao tempo, ele também havia encontrado providências resolutivas na contenção da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, problema que atormentou a família real portuguesa, no Brasil, e atravessou o Império. (Saturnino também aplicou seus conhecimentos de engenharia, com sucesso até hoje, em São Paulo, Santos, Recife e outras grandes cidades brasileiras).

Em João Pessoa, a comunicação subterrânea, ainda em plena serventia, teve início justamente por baixo da atual rua Padre Meira. No finalzinho da década de 1930, a Padre Meira ganhou novo significado urbano, agora, com a inauguração da nova Igreja de Nossa Senhora das Mercês, na esquina com a Treze de Maio, após a ruidosa derrubada de antigo templo seiscentista, no limiar da Praça João Pessoa.

A obra arruinada, para a edificação da Praça 1817, havia sido construída e era mantida pela Irmandade dos Pretos e Pardos, ostentando a mesma denominação de Maria. A essas alturas, a rua já se chamava Padre Meira, em homenagem a antigo morador (quando a via não se aproximava muito, estruturalmente, da Lagoa dos Irerês).

Estamos nos referindo ao padre Leonado Antunes de Meira Henriques (1820-1914), ou simplesmente Padre Meira, que havia sido vigário geral da Paraíba, ao tempo da gestão católica exercida pela Diocese de Olinda, sobre o nosso estado. Portanto, antes da criação, em 1892, da Diocese da Paraíba.

A Padre Meira já serviu de endereço, além de à Igreja das Mercês, à antiga loja Nações Unidas, na esquina com o Ponto de Cem Reis, e nas esquinas com o Parque Solon de Lucena, ao sul e ao norte, aos movimentados bares e restaurantes Pietro’s e Flor da Paraíba.

Também já foi endereço de dois postos de gasolina: um, em frente à Igreja das Mercês, o outro, logo no início do Parque Solon de Lucena. Foi cenário de movimentações políticas memoráveis, na direção da Lagoa, como as que receberam Luiz Carlos Prestes e João Goulart, de passeatas estudantis, contra a ditadura, na década de 1960, bem como de marchas eleitorais, das mais diversas agremiações políticas, que cruzaram a rua a partir de 1950, em meio às campanhas de José Américo e Argemiro de Figueiredo, ganha pelo primeiro.

Por muito tempo, ainda, foi endereço do recém-criado Partido dos Trabalhadores, na Paraíba, que funcionou no prédio onde, no térreo, existia um famoso empreendimento de lanches, bem moderno à época, chamado Casa das Frutas.

A Padre Meira faz a parte final da relação urbana direta entre a cidade baixa e o parque, com volumoso trânsito, a começar lá embaixo, na rua Padre Azevedo. Tem passado e tem presente a rua Padre Meira!

(Na imagem, a Padre Meira na década de 1960, e atualmente)

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba