Por Gonzaga Rodrigues
Não estou bem certo se a imprensa sabe que hoje é o seu dia. No meu tempo de redação dava-se um jeito para esse tipo de lembrança. Mas hoje, nem parece que o computador veio dar chance a isso, trazendo mais folga.
Era o que se esperava, a deduzir do que se via na indústria têxtil, por exemplo. O computador estabelecia um silêncio quase absoluto de passos e vozes humanas no pavilhão de máquinas. A antiga Toália se vangloriava de deixar oito ou dez teares sob uma única monitoração. Na produção do jornal, o mais que se obteve na economia de pessoal foi a eliminação de algumas atividades, imprescindíveis no formato tipográfico.
Do lado do jornalista, o orgulho ainda reside na resistência da intensividade de mão de obra nas redações. O computador faz tudo ou quase tudo, até corrige, mas ainda não substitui o redator. Pode até dispensar o repórter ao capturar, com apoio da eletrônica, imagens e falas do escritório e das ruas, conversas telefônicas, coisas que a presença física do investigador só faria atrapalhar. Mas dar expressão verbal de teor e proveito humano a tudo isso, mesmo quando a imagem é a principal linguagem do veículo, como na televisão, ainda se faz com o recurso de quem, por talento ou qualificação acadêmica, é autorizado a assumir a responsabilidade da informação.
Muitos jornais estão fechando e grandes campeões mundiais de venda perderam milhões de leitores, atraídos pelo consumo fácil e cômodo oferecido pelos veículos de imagem e pela tela do computador. A universalização do computador e da televisão passou a disponibilizar informação com a mesma facilidade com que se oferecem os produtos do liquidificador. Se há corrente elétrica (e existe hoje em quase todas as casas rurais da pobreza) basta ligar, e pronto. Além do mais, é muito mais fácil e cômodo ouvir e ver do que ler. A leitura sempre deu trabalho, sempre foi custosa. Por isso dá preguiça. Ver e ouvir são outra coisa, até fazendo outra coisa se ouve e vê. Com esse avanço universal dos veículos de diversão, a leitura do jornal haveria de cair, mesmo na Inglaterra, na França, campeãs históricas de grandes tiragens.
Mas, a meu ver, os jornais, mesmo reduzidos, ainda terão seu tempo: o tempo da informação elaborada com rigor profissional; o tempo da leitura exposta sem restrição de hora ou de lugar para a reflexão; o tempo, afinal, em que subsistirem as florestas, o mineral das tintas e a curiosidade nunca satisfeita do homem de apurada consciência.
Para comemorar este dia, recorri ontem a um CD do Museu Virtual da Casa de José Américo, a mim cedido pela amiga/irmã Maria Ilza Moreira Franco, com uma das fotos mais importantes da minha vida, embora nela eu não apareça. Ficara encoberto por Wills Leal e Wilton Veloso. Foi uma visita da imprensa ao senhor ministro, ladeado pelo vice-governador Zabilo Gadelha e por uns trinta militantes da imprensa escrita, noventa por cento deles libertos, pela lei da morte, de qualquer apreensão quanto ao destino do barco a que tinham dado a vida.