No dia 27 de setembro de 1938 chegou a João Pessoa, vindo de Belém do Pará, um grupo de 27 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, todos de origem japonesa.
O grupo tinha o objetivo de iniciar na Fazenda São Rafael, de propriedade do estado, uma “cultura científica de hortaliças”, segundo a edição de 30 de setembro daquele ano, de A União.
A ideia foi do governo Argemiro de Figueiredo, por meio da Secretaria de Agricultura, com vistas a um tencionado plano de racionalização agrícola, no estado. Havia anos que aqueles japoneses se encontravam no Pará, onde realizavam tarefa semelhante. Não vinham na condição de migrantes, mas como contratados pelo governo, segundo a matéria de A União.
Dessa forma, “naquela propriedade do estado foram os colonos instalados em casas bastante confortáveis, ali construídas para esse fim”, dizia a notícia. Junto com as casas, cada uma das famílias recebeu ao menos 8 hectares de terra para cultivar, e todas as atenções do poder público.
A meros 6 quilômetros do Centro de João Pessoa, à época, os colonos se disseram muito satisfeitos, em entrevistas ao jornal, uma vez que em Acará, no Pará, cultivavam terras a 400 quilômetros de Belém, segundo eles, ainda mais numa região que vivia surto de impaludismo.
O jornal fez questão de sublinhar que a Fazenda São Rafael (cujas terras são ocupadas hoje pela comunidade do mesmo nome, compreendendo ainda parte do bairro Castelo Branco e do campus universitário da UFPB), ‘possúe terras de paúes e planícies muito férteis’, preservado o português da época.
Já em 11 de dezembro de 1938, menos de três meses após a chegada dos japoneses, A União noticiava que eles estariam vendendo suas hortaliças no Mercado de Tambiá. Resposta rápida, portanto! Mas querem saber? Um ano depois, em 1 de setembro de 1939 estourou a Segunda Guerra Mundial.
Em 7 de dezembro de 1941, o Japão entrou no conflito, ao lado de Alemanha e Itália. Em 22 de agosto de 1942, o Brasil declarou guerra ao Eixo (Japão, Alemanha e Itália). A partir daí, os colonos japoneses de João Pessoa foram expropriados e remetidos para o Interior, sem direito a terra para plantar.
Assim, o que poderia ser uma progressista colônia japonesa em João Pessoa, não vingou, pois não recuperaram suas glebas nas mesmas condições anteriores. Sabe a região de Acará de onde partiram os colonos japoneses que chegaram a João Pessoa? Pois bem, virou um campo de concentração durante a II Guerra Mundial.
Entretanto, acabado o conflito, os colonos recobraram a liberdade de produzir na terra e de comercializar seus produtos. Agora, seus descendentes estão entre os maiores produtores de pimenta do Brasil.
(A foto, em relativamente boas condições, é de A União de 30 de setembro de 1938)
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba