por Helena Sthephanowitz
A quem interessava não cassar o deputado Natan Donadon? Ao PMDB não era. Pragmático, já havia até o expulsado do partido. Tampouco ao PT, pois era sabido que o fato seria explorado pelos oponentes para desgastar o partido, que tem dois parlamentares enfrentando o julgamento do chamado “mensalão”. Nenhum parlamentar que leva a sério sua atividade iria expor a própria imagem e de toda a Câmara por causa de uma causa perdida, como era o caso de Donadon.
PT e PMDB consideravam a cassação como fato consumado a ser meramente homologado em votação. Interessavam-se apenas em reafirmar a decisão final do poder Legislativo sobre cassar quem tem mandato popular por quem também tenha voto popular, conforme manda a Constituição. Deu tudo errado. Faltaram 24 votos para que o deputado fosse cassado.
Cassar ou não, na prática, não fazia a menor diferença para o destino de Donadon. Condenado a uma pena de treze anos e já na prisão, ele não poderá exercer o mandato até seu final. Uma cassação nem sequer o deixaria mais inelegível do que já está pelos próximos 13 anos. Logo, nem quem fosse próximo ao deputado teria como tentar “salvá-lo”, pois a situação é simplesmente impossível. Tanto não teve efeito prático, que o presidente da Câmara declarou Donadon afastado do cargo e convocou o suplente para assumir a vaga.
Nesse quadro, os deputados, todos espertos o suficiente, sabiam que votar a favor de Donadon era votar contra si mesmos, atraindo a ira popular. Mesmo com o voto secreto, que garante o anonimato, o desgaste é de toda a classe política.
Então por que razão 131 deputados votaram rejeitando a cassação do deputado, com efeito meramente simbólico e autodestrutivo? Alguns falam que houve uma aliança do chamado “baixo clero” com a bancada evangélica, da qual Donadon fazia parte. Teriam articulado não só os 131 votos, mas também teriam convencido alguns a faltarem à votação. Temeriam estar abrindo a guarda para virem a se tornar a bola da vez, segundo estas versões. É possível que um ou outro deputado tenha pensado assim. Mas é difícil acreditar que cheguem a 131.
O mais provável é que parte destes votos tenham vindo da turma da oposição que aposta no “quanto pior, melhor”. Se confirmada a participação da oposição, o episódio lembrará a noite da eleição do ex-deputado Severino Cavalcanti (pelo PP de Pernambuco) para presidente da Câmara, em 2005.
Aproveitando-se de um momento de divisão da base governista – razoavelmente parecido com os dias atuais – até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso passou a noite disparando telefonemas para convencer deputados a votarem em Severino. A ideia era simples: enfraquecer o governo do então presidente Lula, numa manobra que se mostrou danosa para a própria imagem da classe política como um todo. Pouca coisa mudou…