Opinião

PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS: Rua Padre Azevedo. Mas quem foi esse padre? - Por Sérgio Botelho

Muitas das pessoas que percorrem de carro, ônibus, moto, bicicleta ou a pé, diariamente, pela rua Padre Azevedo, uma das artérias mais movimentadas da cidade baixa, em João Pessoa, não imaginam quem foi o homenageado com sua denominação.

PARAHYBA DO NORTE E SUAS HISTÓRIAS: Rua Padre Azevedo. Mas quem foi esse padre? - Por Sérgio Botelho

Muitas das pessoas que percorrem de carro, ônibus, moto, bicicleta ou a pé, diariamente, pela rua Padre Azevedo, uma das artérias mais movimentadas da cidade baixa, em João Pessoa, não imaginam quem foi o homenageado com sua denominação.

Ela começa no Terminal de Integração, no Varadouro, e termina na Beaurepaire Rohan, ao lado do histórico prédio do principal quartel do Primeiro Batalhão da Polícia Militar de João Pessoa.

Dali em diante, seguindo em frente, tem a Guedes Pereira, a possibilidade da General Osório, pegando a direita, rumo à zona sul da cidade, ou continuando em frente, o Ponto de Cem Reis (por baixo), a Padre Meira, a Lagoa do Parque Solon de Lucena, a Diogo Velho, a Pedro II e o mundão pessoense.

A Padre Azevedo é, sem dúvida, um dispersor de trânsito de enorme serventia para a cidade. Além de sediar um vibrante comércio varejista. Mas quem foi Padre Azevedo? Rapidamente respondo que se trata de um clérigo nascido na cidade de Parahyba (nossa atual João Pessoa), no século XIX, ou como muitos historiadores convencionaram chamar, nos 800 (nasceu e morreu, respectivamente, nos anos de 1814 e 1880, na capital paraibana, tendo sido ordenado padre e vivido em Recife, nesse interregno), que pode ser considerado uma espécie de Da Vinci tupiniquim.

Sua grande invenção foi a máquina de escrever, bem antes de um americano patenteá-la e produzi-la em escala mundial, ganhando muito dinheiro. Contudo, afora ser considerado um excelente matemático, ele também criou um veículo para o mar, acionado pela força das ondas, e outro para a terra, movido por correntes aéreas. Mas não somente isso.

Padre Azevedo, batizado como Francisco João de Azevedo, deixou um repertório de músicas sacras largamente utilizadas em festas católicas. Ele chegou a apresentar a máquina de escrever em exposição nacional acontecida no Rio de Janeiro, vale dizer, na Corte, em 1861. Com um detalhe: a criação foi premiada com uma medalha entregue ao padre pelo próprio imperador Dom Pedro II. Ficou nisso.

Deveria ter ido participar, na sequência, de uma exposição internacional em Londres. Faltou espaço no estande brasileiro, e ele não foi. Tem condição?! Desse jeito, nem o padre teve ânimo para seguir em frente nem o Império colaborou para que isso fosse possível. Há quem suspeite, com alta dose de possibilidade, de que a máquina de escrever, afinal lançada 12 anos depois, nos Estados Unidos, possa ter sido mesmo copiada do modelo apresentado pelo Padre Azevedo, no Rio.

Quem disse isso foi o escritor paulista Miguel Milano (1885-1971), que biografou o padre paraibano, citado em matéria de página inteira, sobre Azevedo, no jornal Estado de São Paulo, edição de 27 de julho de 1980, “o simples confronto entre as duas máquinas (a brasileira e a americana, de Cristóvão Sholes) não deixou a menor dúvida de que se tratava da mesma máquina. Nem o pedal lhe foi suprimido, apesar de perfeitamente disponível”.

Essas coisas, creio, devem ser ensinadas desde o primário em nossas salas de aula públicas e privadas. Ao menos visando ter a nossa gente a ciência de que o inventor da máquina de escrever, a desembocar no conceito do teclado do computador e de outros modernidades digitais, foi um cidadão nascido nestas inspiradoras plagas existentes entre o Sanhauá e o Atlântico, conhecidas através dos séculos como território da Cidade Real de Nossa Senhora das Neves, de Filipéia, de Frederica, de Parahyba e, finalmente, de João Pessoa.

(A foto é da exposição nacional de 1861, no Rio, referida no texto)

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba