Ele tinha quase dois metros de altura e um coração diretamente proporcional ao seu tamanho, onde sempre cabia mais um. A lealdade aos amigos era a característica mais forte de sua personalidade envolvente e sedutora.
Era capaz de qualquer sacrifício para atender um velho companheiro que necessitasse de sua presença. Afetivo, sensível, generoso, tinha nas músicas do Rei Roberto Carlos o roteiro de sua própria vida, do amante a moda antiga, do moço velho, do último romântico, do tipo que ainda manda flores e que chama de querida a namorada, no caso, a sua esposa Goretti, companheira de muitos anos.
Como pai, abarcava a todos, filhos e netos, com o seu amor e a sua proteção. Não importava que já estivessem crescidos: tratava-os como se ainda fossem crianças. Preocupava-se com toda a prole e era um vigilante da felicidade alheia. Desprendido dos valores econômicos e materiais, vivia modestamente, num bom apartamento em Manaíra, sem ambições a não ser as imateriais, contanto que tivesse o suficiente para viver com dignidade, manter a família e usufruir dos seus pequenos prazeres.
Profissionalmente era um craque. Cronista do cotidiano, publicitário imbatível em seus textos e frases, era um jornalista apaixonado, completo que passou por todos os estágios da profissão. Revisor, repórter, redator, editor, foi diretor de A União; fundador e diretor da Oficina de Propaganda, ao lado de Milton Nóbrega (Im) e Alberto Arcela; foi secretário de Comunicação Social do governo honrado de Tarcísio Burity. Levou para a gestão pública a integridade que trouxe do berço e o que o fez passar incólume por todos os cargos que exerceu com invulgar transparência e honestidade.
Por força do nosso trabalho, nos víamos com frequência e estávamos permanentemente ligados, sintonizados pelo espírito e pelos recursos da tecnologia disponibilizados na internet. Nos falávamos diariamente pelo zap, no início e no fim do dia, comentando a coluna, trocando ideias e informações, e muitas palavras de carinho e amizade. Me alegrava vê-lo sempre no meu celular, a elogiar, a criticar, a corrigir ou a sugerir pautas com a sua visão de jornalista experiente que sabia tratar a notícia com respeito e fidelidade.
Era o meu ombudsman: a minha melhor referência para aprimoramento do exercício de minha profissão. Um professor, que fazia observações sobre o conteúdo dos meus comentários; que sugeria títulos e que me obrigava a procurar as palavras mais adequadas para melhor compreensão dos leitores. Um mestre também na ética, na prudência e na crítica pertinente e oportuna.
Gentil, cortês, carinhoso, divertido e bem-humorado, Martinho Moreira Franco era uma figura humana adorável que encantava todos os seus amigos pela generosidade do seu temperamento e pela firmeza do seu caráter. Foi embora aos 74 anos, no dia 6 de fevereiro de 2019, deixando sua esposa Goretti, filhos, filhas e netos, e levando consigo a imensa saudade de todos que desfrutaram de sua presença.
Apaixonado pelo Roberto Carlos, fui buscar na canção do Rei a melhor definição para este homem admirável:
“Você meu amigo de fé, meu irmão camarada. Amigo de tantos caminhos de tantas jornadas. Cabeça de homem, mas o coração de menino; aquele que está do meu lado em qualquer caminhada”.
Fonte: Abelardo Jurema Filho
Créditos: Polêmica Paraíba