Corpo do ex-presidente João Goulart será exumado

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O processo de exumação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart, morto em 1976, supostamente vítima de um ataque cardíaco, começará oficialmente daqui a uma semana em São Borja (RS). Dividida em duas etapas, a operação envolverá num primeiro momento peritos da Polícia Federal, que vão se deslocar na próxima quarta-feira até a cidade gaúcha, na fronteira com a Argentina, para colher informações sobre as condições do local onde Jango está sepultado. A segunda etapa, a exumação propriamente dita, será realizada em, no máximo, 30 dias.

Os técnicos da PF vão levantar dados que ajudem a definir que equipamentos serão necessários para a abertura do túmulo, quantos peritos precisarão acompanhar a exumação e se haverá necessidade de interditar o cemitério municipal Jardim da Paz, onde está o mausoléu da família Goulart. A preocupação da PF é com a presença de curiosos no local, que poderiam comprometer a qualidade da exumação.

Também há preocupação com o trajeto dos restos mortais do ex-presidente até o aeroporto da cidade, já que a análise científica será realizada em Brasília, na sede do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal. Os peritos também vão buscar informações sobre a necessidade de autorizações judiciais para realizar a exumação.

Segundo o chefe da Divisão de Perícias da PF, Amaury de Souza Júnior, a retirada dos restos mortais deve ser rápida para causar o menor transtorno possível na comunidade.

— Vamos verificar todas as condições do local, quantos peritos serão necessários, que tipo de especialistas vamos levar para garantir a integridade do material a ser coletado. É provável que haja a interdição do local — afirmou Souza Júnior.

Os peritos devem elaborar planta em 3D do túmulo e do cemitério para que o planejamento seja completado em Brasília. A inspeção terá a presença de representantes da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República. Christopher Goulart, neto de Jango, estará em São Borja para acompanhar o trabalho.

A exumação dos restos mortais do ex-presidente foi decidida no dia 24 de abril pela Comissão Nacional da Verdade, diante dos indícios de que a morte de João Goulart, ocorrida na noite de 6 de dezembro de 1976, durante seu exílio na Argentina, pode ter sido provocada por fatores externos. O Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul investiga, desde 2007, a hipótese de envenenamento. Peritos do Uruguai e da Argentina, além de técnicos cubanos pedidos pela família, vão acompanhar o trabalho.

— Esperamos que seja um trabalho transparente, com credibilidade, e que dê resposta a uma dúvida de muitas décadas. Não se trata mais de um interesse familiar, mas de uma resposta para o país, para a História do país — afirmou Christopher Gourlart.

O Globo