Rubens Nóbrega
Senti vergonha alheia ao saber ontem do papelão que o governador do Estado fez anteontem em Brasília, durante audiência com a ministra Miriam Belchior, do Planejamento, da qual também participaram o prefeito Luciano Cartaxo, de João Pessoa, e Aguinaldo Ribeiro, ministro das Cidades.
Governador e prefeito foram convocados desde 30 de julho último pela ministra para discutir e encaminhar projetos de melhoria da mobilidade urbana na Grande João Pessoa, incluída nas prioridades do governo Dilma graças às manifestações de rua contra tarifa alta e qualidade baixa do transporte público de massa.
Um dos projetos mais importantes em pauta era o do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), previsto para se integrar aos trens da CBTU e ônibus de linhas municipais, intermunicipais e interestaduais. Para tanto, deverá ser construído em um terreno do Estado vizinho à Estação Ferroviária da Capital.
O governador Ricardo Coutinho teria acertado em audiência anterior com a ministra a participação do Estado no projeto. Consistiria em assumir a gestão operacional do VLT e ceder a área para a construção do terminal. Mas aí, como dizem lá em Bananeiras, o homem ‘deu pra trás’.
A surpreendente retirada do apoio do soberano ao projeto apareceu, inclusive, na tela preparada para exibição dos projetos. Quando abriram o arquivo do VLT da região metropolitana de João Pessoa, lá estava uma legenda informando sobre a “Desistência do Governo do Estado”. Desse jeito, literalmente.
Ao ver aquilo, a ministra Miriam Belchior fez cara de quem não acreditava no que estava lendo. Virou-se então com o cenho franzido para o governador, que estava à sua direita, e perguntou a razão daquela inesperada quebra de compromisso. Compromisso, aliás, que fez o Ministério alocar uma grana extra no Orçamento da União para o Estado da Paraíba.
Por essas e outras, o que a Doutora Miriam ouviria a seguir deve ter aumentado ainda mais a sua indisfarçada contrariedade. Porque a ministra ouviu Ricardo Coutinho alegar supostas dificuldades em administrar o terminal, principalmente no que toca à alocação e gestão de pessoal, e reclamar do fato de a CBTU já encontrar licitando a compra dos vagões, negócio que pelo visto o governador acreditava caber ao Estado.
Coube então à ministra explicar ao nosso absoluto que dessa parte cuida a CBTU, empresa do Governo Federal, para justamente baratear o valor total da compra, já que vai comprar vagões para todo o Brasil, para todo mundo, para todos os envolvidos na implantação do metrô de superfície e assemelhados.
Mas o pior (para a imagem da Paraíba na Esplanada dos Ministérios) ainda estava por vir. Foi quando técnicos da velha Seplan perguntaram pelos demais projetos que deveriam expor e defender o governador e o secretário que o acompanhava, Ricardo Barbosa (da Suplan, o órgão planejador e fazedor de obras do Estado).
Sem ter o que mostrar
Projeto nenhum. Ricardo Barbosa ainda ensaiou a desculpa de que teria sido notificado de última hora para comparecer àquela audiência e, portanto, não teve tempo suficiente para preparar e levar algo apresentável em matéria de projeto ou, pelo menos, as indefectíveis boas intenções em letra de forma.
– Mas o convite para esta audiência foi encaminhado pros senhores e para a Prefeitura na mesma data e horário – retrucou um dos técnicos do Ministério do Planejamento que assessorava os trabalhos, referindo-se implicitamente ao fato de, bem ao contrário do governo estadual, o municipal ter ido ‘preparado’ para o encontro.
E Luciano Cartaxo e seus secretários foram mesmo bem apetrechados de documentos, plantas, mapas, maquetes, dados, números e tudo o mais. Tanto que gastaram hora e dez minutos para mostrar os seus projetos. E fizeram direitinho, como manda o figurino, de forma didática e competente.
A pedida do alcaide da Aldeia de Nossa Senhora das Neves chega a quase um bi de reais. Pela consistência do material apresentado, tem tudo para ganhar o seu quinhão nos R$ 50 bilhões reservados pelo Planalto para atender ao povo que há um mês sacudiu o país e abalou o governo exigindo o fim de tanto serviço público ruim e caro.
A ponte de Cássio
Soube que depois daquela sequência de episódios constrangedores, talvez para não prolongar tão melancólico desempenho, o governador levantou-se e saiu de fininho, à francesa. Mas deixou lá o seu super xará, que não se apertou mesmo depois de ver que não colara a história da falta de tempo para aprontar alguma coisa.
Para surpresa ainda maior dos presentes, principalmente dos demais paraibanos que participavam da reunião, Ricardão puxou do bolso e mostrou um papel que resumia a proposta de construção de uma ponte ligando Cabedelo a Costinha. Quem é daqui sabe que essa é a famosa ‘ponte de Cássio’, assim batizada por ter sido ideia lançada pelo hoje senador Cássio Cunha Lima quando governava o Estado.
Mas sequer a ponte passou no crivo dos técnicos do Governo Federal. Argumentaram que a obra não se enquadra no perfil traçado por Dona Dilma para favorecer a mobilidade urbana em larga escala, atacando problema que afeta mais agudamente as capitais brasileiras, principalmente aquelas com entorno tão adensado quanto o de João Pessoa.