O CASO DE VENEZIANO PODE EDUCAR A JUSTIÇA

Gilvan Freire

Há um indisfarçável contentamento de setores ligados ao governo de Ricardo Coutinho com a condenação de Veneziano pelo Juiz estadual Ananias Newton Xavier, com a suspensão de seus direitos políticos por três anos. Não parece ser muito difícil ao Cabeludo livrar-se dessa condenação, uma vez que a Justiça Eleitoral já fez análise dessa matéria e afastou essa pena rigorosa. De qualquer forma, Veneziano vai chegar a 2014 sangrando muito, porque muitas ações estão sendo preparadas para impedir a sua candidatura. Provavelmente, mais de vinte.

Não faz mal que existam ações ou condenações de homens públicos e gestores nessa ruína moral desmoralizante em que se transformou o setor público no país inteiro. Se o povo soubesse o que acontece nos bastidores da administração pública e o grau de perversiamento do Tesouro, não só enxotava a pau a maior parte dos mandatários políticos como, possivelmente, os lincharia e os esquartejaria, tamanho o banditismo que incrustou-se na máquina estatal.

Mal ao povo e aos costumes faz mesmo é a omissão das autoridades, quando não a cumplicidade dos outros poderes com a horda de delinqüentes que atrasam a emancipação social dos pobres e os submete à fome e a miséria de duração centenária. Houvesse uma revolução irada contra todos os que se locupletam do dinheiro público, na forma direta de alcance ou mediante conluio de autoridades que se omitem e se favorecem, haveria o fuzilamento coletivo de gente bacana de todos os poderes. Se pelos meios pacíficos não for possível afastar os ratos de onde são armazenados os queijos da população (dinheiro da educação, saúde, segurança e outros importantes programas sociais), ai não tem jeito: é desarmar as ratoeiras que não funcionam, porque muitas são cuidadas por outros vadios, e partir para o cacete, que é ainda arma poderosa para eliminar gabirus.

Cada homem público que aja com probidade para não ser apanhado pelos quixós que, ainda que raramente, pegam roedores comendo víveres dos mais necessitados. Não pode haver tolerância nem medo. E a omissão de quem deve apurar e punir é outro crime correlato de maior gravidade ainda.

No caso de Veneziano, porém, embora o fato não tenha as aparências nem o conteúdo de uma ação e prática desabonadora da honra e da moral do gestor, não represente alcance de dinheiro público nem desvios financeiros de qualquer natureza, se insere no plano da ética política, um desvio de conduta do que se exige seja o politicamente correto. É de baixíssimo estrago, mas educa a justiça para que ela se levante no controle dos menores abusos e, com maior razão, na questão dos crimes contra o Erário e o patrimônio público que estão florescendo à luz do dia nas barbas do Poder Judiciário e do Ministério Público em todo o canto e na Paraíba.

Se essa onda pegasse com a mesma proporção que pega hoje a onda da roubalheira pública, que tira bilhões por ano dos cofres estatais e da proteção aos pobres, não mais precisaria que o povo fizesse a sua revolução nas ruas. Mas, ao que parece, o povo quer e vai fazer. E deve.