Ricardo, o atrator

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Rubens Nóbrega

Parece que ninguém está prestando atenção numa coisa por demais preocupante. Todo esse bafafá, toda essa onda em cima do Jampa Digital pode prejudicar e muito um dos mais surpreendentes talentos de Ricardo Coutinho, revelado a partir de quando ele assumiu a Prefeitura da Capital em 2005. Refiro-me à sua prodigiosa e já reconhecida capacidade de atrair empresas como essas que lembro agora.

• Líder. Logo após vê-lo entronizado na alcaidia de Nossa Senhora das Neves, os eleitores do então novo prefeito de João Pessoa foram surpreendidos com a notícia da cessão – sem licitação – de 30% da coleta de lixo da Capital à Líder, empresa acusada depois pela Polícia Federal de forjar concorrências públicas que sangraram a Viúva em R$ 36 milhões. Um dos proprietários da Líder foi, inclusive, preso em sua residência em Manaíra, durante a Operação Hígia da PF, realizada em março de 2008. A Justiça mandou prender porque acatou a acusação de que o rapaz cometera falsificação de documentos, peculato, tráfico de influência e fraude de licitação pública.

• Conab. Vem a ser a Companhia Nacional de Abastecimento, empresa do governo federal que no final de 2007 doou 100 toneladas de feijão à PMJP que deveriam ser distribuídas aos pobres da Capital. Mas, conforme denunciou a revista Veja com base em informações de um funcionário da Conab na Paraíba, “em vez de doar o feijão de imediato, a Prefeitura decidiu guardar o estoque, afinal, 2008 seria ano eleitoral e o então prefeito (Ricardo Coutinho) concorreria à reeleição”. Tanto que em setembro do ano da graça daquelas eleições municipais tentaram distribuir o feijão, mas a operação foi abortada porque o denunciante alertou Polícia e Justiça Eleitoral. Resultado: para evitar o flagrante, 8 toneladas do produto foram levadas em caminhões da Prefeitura para serem enterradas num lixão da Big Jampa.

• SP Alimentação. Em dezembro de 2008, licitação da PMJP à qual se habilitariam apenas empresas paulistas acusadas de integrarem a nacional e tristemente famosa Máfia da Merenda fez com que Ricardo Coutinho terceirizasse a alimentação de mais de 60 mil alunos da rede municipal. Vencedora do certame, a SP Alimentação ganhou contrato de mais de R$ 47 milhões. Ah, e o dono da contratada – acusado de fraudar licitações, subornar prefeitos, secretários et caterva – também foi preso em operação policial de grande repercussão em todo o país.

• Desk e Delta. Irmãs siamesas gestadas nas entranhas da corrupção, conforme apurou o Ministério Público da Paraíba, as duas empresas figuram com destaque na galeria de fornecedores do poder público que fecharam contratos milionários com suspeitas de superfaturamento para venda de móveis escolares ao município de João Pessoa em 2008 (quando prefeito era Ricardo Coutinho) e ao Estado da Paraíba em 2011 (quando governador já era Ricardo Coutinho).

• Ideia Digital. No dia 27 de outubro de 2010, quando ainda assinava coluna no Correio da Paraíba, publiquei lá denúncia documentada sobre superfaturamento de até 1.650% na compra de equipamentos de informática pela Prefeitura da Capital a partir do Pregão 0192009. O escândalo, posteriormente conhecido pela alcunha de Jampa Digital, envolvia recursos da ordem de R$ 39 milhões, a PMJP sob Ricardo Coutinho como contratante de um lado e, do outro, e baiana Ideia Digital como contratada.

• Plugnet. Na mesma coluna fundadora do Jampa Digital, fiz menção a outra empresa do ramo, a Plugnet. Segundo minhas fontes, essa ganhava todas ou quase todas as licitações para manutenção e reposição de peças da rede de computadores da PMJP. Se ainda estiverem armazenados no Sagres (portal.tce.pb.gov.br/aplicativos/sagres), nesse endereço da Internet o leitor encontrará inúmeros empenhos que comprovam os pagamentos feitos pela Prefeitura da Capital à Plugnet, que também seria, a exemplo da Ideia Digital, doadora de dinheiro a campanhas de Ricardo.

• Cruz Vermelha. No primeiro semestre de 2011, RC importou da Baixada Fluminense um esquadrão fura-greve de movimento paredista dos médicos do Hospital de Trauma de João Pessoa. Em julho daquele ano, ao custo de R$ 7,2 milhões por mês, entregou àquele pessoal a gerência do HT, formalmente terceirizado a uma organização que ostenta a grife Cruz Vermelha. Curiosamente (talvez nem tanto), na Paraíba a Cruz gaúcha viria a ser comandada pelo Doutor Edmon Gomes da Silva, médico em Duque de Caxias (RJ), cidade onde o novo gestor do Trauma foi processado por supostamente cometer golpes que levaram ao fechamento da Unimed local, da qual foi presidente.

• Easy Life. Em março do ano passado, foi a vez dessa empresa cearense ser atraída por Ricardo Coutinho e aqui incorporar-se ao esforço desenvolvimentista da Nova Paraíba, ao governo da qual alugou 32 ambulâncias por R$ 8,7 milhões por ano. Com isso, cada viatura saiu a R$ 272 mil para o contribuinte, enquanto uma nova, zero, com chance de ser patrimonializada pelo Estado, sairia por R$ 166 mil.

• MCF. Administradora de crédito e cobrança pertencente a um deputado cearense do PSB, essa empresa foi atraída também ano passado pelo Ricardus I. Contratada sem licitação, sua serventia seria informar ao Governo do Estado o quanto um funcionário pode tomar emprestado a um banco. Para tanto, através de um programa de computador, calcula a chamada margem de consignação (o percentual do salário que o interessado pode comprometer com empréstimo). A MCF ganharia de 2 a 5% do valor de cada empréstimo consignado concedido a qualquer servidor estadual.

Em vez de atacar…

Penso que o governador faria mais negócio se buscasse convencer o distinto público dos benefícios carreados para o Estado mediante atração e captação desses novos investimentos. Ainda mais sabendo que ninguém poderia censurá-lo por supostamente preterir investidores locais. Roberto Santiago e donos de empresas de ônibus, por exemplo, podem dar testemunho de que Ricardo também sabe como prestigiar alguns empreendimentos genuinamente paraibanos.