Mai demorar, mas muda

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Paulo Santos

As manifestações e protestos que irromperam neste país deslumbraram – e continuam deslumbrando – até os mais empedernidos pessimistas. Muitos comemoram os avanços que já foram conquistados, mas ainda não totalmente digeridos, nos planos econômico e político. Pouco – ou quase nada – mudou concretamente.

Na última terça-feira (9) houve mais uma demonstração explícita de que a sociedade assustou os políticos, mas não o suficiente para que mudem seus conceitos a respeito de alguns privilégios: o Senado derrubou o projeto de emenda constitucional que acabava com a figura do suplente, aquele que chega ao Paraíso sem precisar ser votado e, na maioria das vezes, é o financiador do mandato. Ou seja, compra de uma cadeira que pertence ao povo.

O cantor e compositor Tom Zé disse, dias atrás, que o povo vai precisar voltar logo ás ruas em novas manifestações e protestos. Esqueceu de observar que não são apenas políticos que devem ser os alvos dos próximos protestos. Outros segmentos que detestam essa tal de transparência merecem ser colocados na ribalta.

Juristas, cientistas sociais, jornalistas e outros profissionais bem intencionados vivem a pregar a necessidade de se exercitar a honestidade, a ética e o respeito à coisa pública, especialmente ao dinheiro arrecadado por essa montanha de impostos que aflige a todos, pobres e ricos, brancos e negros, crentes e ateus.

Há uma necessidade premente de se aprender a viver, neste país, com certas qualidades. O “jeitinho” – eufemismo para corrupção, propina, improbidade e outras desqualificações – está impregnado na vida de um punhado de funcionários públicos, políticos, profissionais liberais como se fosse uma tatuagem, impossível de ser removido. A definição mais comum é “isso é cultural”.

Mentira. Os jovens que foram ás ruas se formaram ou estão se formando escravizados por esse “processo cultural” e nem por isso se omitiram diante da roubalheira. As falcatruas precisam de arquitetos e seus idealizadores precisam de símbolos. Os estádios erguidos para a Copa do Mundo no Brasil simbolizam a irresponsabilidade na aplicação do dinheiro do contribuinte.

Não basta, entretanto, apenas tecer loas aos manifestantes, àqueles que proporcionaram esse momento de grandeza ao Brasil in loco ou anonimamente. É preciso ir além e decifrar nossas esfinges, dar à honestidade um traço cultural permanente e não se deixar envolver pelo emocionalismo na beleza plástica de uma passeata com 100 mil pessoas.

Segmentos que hoje cravam nas pesquisas o desejo de ver um brasileiro honesto e competente para conduzir esse país ao paraíso da transparência ainda terão que esperar muito até que tiremos dos mandatos os milhares de mentirosos que despejam más intenções nos famigerados guias ou nos debates eleitorais.

É preciso informar aos nossos preclaros e eminentes governantes, legisladores, juízes, sindicalistas, dirigentes de universidades e muitas outras categorias que fiquem tranquilos: eles não cairão. Por enquanto. A mudança não será tão rápida quanto o surgimento das manifestações de junho passado sugere, mas que ela virá, é irremediável. Tudo tem seu dia.

EQUIPE
Um petista de alto coturno garante: ainda não passa, pela cabeça do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, mudanças radicais na equipe. “Pode acontecer substituição pontual, como é comum, mas sem crise”, diz a fonte que frequenta os gabinetes municipais com grande assiduidade.
MP NA TV
Tudo indica que dentro de uma semana haverá algo mais nos ares da Capital do que os aviões de carreira. Está saindo do forno o programa que o Ministério Público estadual vai incorporar à “grade” de programação das TVs Assembleia e Câmara. Crstina Fernandes irá apresentar e uma repórter terceirizada fará o resto. A estreia está prevista para quarta-feira (17).
IGNORÂNCIA
Quem não tem conhecimento não deveria se meter a escrever. É o caso de quem estranhou que o mundialmente conhecido Flávio Tavares fosse eleito ‘imortal” em sua terra. O mesmo comentarista errou também ao dizer que Flávio é o primeiro pintor paraibano a ser “imortalizado”, esquecendo do primeiro: Pedro Américo. E, por último, a Casa é “Academia Paraibana de Ciências, Letras e Artes”. Como diria o humorista, “a ignorança é que astravanca o pogresso”.