Como se manda o povo pra casa?

Marcos Tavares

Não existem manuais ensinando como se manda o povo de volta para casa. Cada um tem sua receita nem sempre bem sucedida. Nicolau II, da Rússia, mandou que os soldados atirassem no povo que pedia pão no Domingo Sangrento e terminou fuzilado. Os chineses, com a ajuda de alguns tanques, liberaram a Praça da Paz Celestial deixando um rastro de cadáveres. Dilma – a búlgara – parece não querer chegar a esses extremos, apesar de falar grosso quando disse que não permitiria que o fechamento de estradas solapasse nossa economia. Uma coisa fica certa: não se bota o povo pra casa com bondades.

É a velha história de dar a mão e alguém querer o pé. O povo, essa entidade mítica, notou que fez medo aos governantes, que conseguiu baixar as tarifas de ônibus que eram a chamada para as ruas. Conseguiu mobilizar o Congresso e conseguiu que Renan considerasse hediondo o crime da corrupção. Não vai parar por aí. Vai pedir mais, vai exigir mais, vai esticar a corda até que ela se rompa de um lado e acabe a disputa. Deram passagens baratas, querem pedágios baratos. Deram leis contra a corrupção, agora querem os corruptos na cadeia. Deram pão e o povo quer bolo, pois já dizia a Bíblia que nem só de pão vive o homem.

Até quando o povo estará nas ruas e até quanto o governo pode ceder é uma charada que nem os futurólogos e nem mesmo os cientistas políticos se atrevem a decifrar. O querer do povo é infinito e a vontade de dar dos gestores é pouca. Alguém vai ter de perder nessa briga e podem até perder todos, já que em convulsões sociais ninguém sai ganhando. Mas alguma coisa vai acontecer nesse país que vivia deitado em berço esplêndido de povo ordeiro pacato, de ovelhas prontas ao sacrifico que agora começam a berrar na hora do corte.

Procuradores

Não sei quem elegeu ou determinou que algumas pessoas representassem o povo nas reuniões com gestores públicos. Eles se reuniram com a presidente Dilma e com o governador Ricardo falando em nome de uma população que não lhes delegou esse direito.

Quem são essas lideranças que se arvoram de representar o povo? Quais instituições classistas representam para decidir caminhos e aceitar propostas de quem está no poder?

Eu não deleguei meu protesto a ninguém, nem me sinto representado por nenhuma categoria – nem a dos jornalistas – em negociações. Acho que tem gente pegando carona na ira popular para subir de posto.

Comando

Ninguém me tira da dura cabeça de nordestino que por detrás desse movimento alguém manobra os pauzinhos.

É impossível ajuntar tanta gente e organizá-la em esquadrões que atacam justamente pontos vitais como grandes estradas e aeroportos.

O povo pode até ir às ruas sem liderança, mas vai mobilizado por alguma força que habilmente manipula essa insatisfação vigente.

Nunca é demais esquecer o episódio do boato sobre o fim do pagamento do Bolsa Família, até hoje envolto no mais profundo mistério.

Dúvida

Renan disse em alto e bom som que não sabe se a lei que convoca o plebiscito será votada ou não.

Para bom entendedor, um sinal de alerta para Dilma.

Derretendo

As chuvas na cidade derretem imediatamente todos os discursos sobre mobilidade urbana.

A realidade é que vivemos numa capital que não resiste a uma neblina forte.

Ficha

O Congresso joga para a plateia quando aprova a Lei da Ficha Limpa para funcionários.

Qualquer funcionário para tomar posse em seu cargo deve apresentar folha corrida do âmbito judicial.

Logo, essa nova lei é supérflua.

Experiência

Quem não ausculta a história está fadado a cometer os mesmos erros.

Todos se lembram da malfada Setusa, uma experiência estatal de fornecer transporte barato. Foi um desastre!

Festança

Não é ninguém de fora que denuncia. A própria Famup, que congrega os prefeitos do estado, alertou para os altos gastos com festas e o trem da alegria nomeando todos os correligionários.

Tragédia

Seria engraçado não fosse trágico. Importantes autoridades da nossa Justiça vão à tevê dizer que não existem condições de baixar a maioridade penal por falta de estrutura nas cadeias. Um erro sustenta outro.

Frases…

Viajando – A morte é uma viagem. O problema é a volta.

Cura – O amor é uma loucura plenamente curável com o casamento.

Negociando – Não existe um bom negócio para todos. Alguém sempre perde.