Mobilidade meia boca 2

Rubens Nóbrega

Sob o título aí de cima, coluna publicada em 8 de julho de 2011 (há quase dois anos, portanto) trazia entre outras as seguintes considerações sobre o Pac da Mobilidade Urbana anunciado pelo então prefeito de João Pessoa, Luciano Agra:

• o prefeito mostrou que não quer que eu deixe o carro na garagem e pegue a bicicleta, ônibus, metrô ou van para ir e voltar de casa para o trabalho ou qualquer lugar;

• os meus parentes, vizinhos do lado, de cima e de baixo também não vão querer trocar o carro por qualquer outro meio de transporte mais saudável ou coletivo porque agora teremos mais asfalto e mais ruas alargadas para trafegar;

• que importa se vamos continuar contribuindo para aumentar exponencialmente os congestionamentos em nossas ruas e a poluição do ar que respiramos, despejando diariamente toneladas de gases poluentes em nossa atmosfera?

• que importa se mais binários, ruas asfaltadas e terceiras pistas em alguns dos nossos grandes corredores serão facilmente saturados e superados pela circulação de uma centena de novos carros licenciados a cada dia na Capital?

• em matéria de transporte de massa, o atual gestor, a exemplo daquele do qual é cria, continua priorizando o ônibus em detrimento de alternativas de deslocamentos mais rápidos, mais ágeis, mais confortáveis e seguros;

• você aí já viu alguma campanha do poder público municipal que incentive a classe média a pegar ônibus, a deixar o carro em casa, convencendo-a ainda de que ônibus não é só pra gente pobre?

• lembrando, evidentemente, que, primeiro, é preciso oferecer ônibus de muita qualidade, regularidade, limpeza e segurança;

• … por que será, hem, que o prefeito não aceita fazer, por exemplo, o que fizeram no Rio de Janeiro, onde investiram pesado no aumento de ciclovias e numa campanha de conscientização da população, que aderiu bem à bicicleta?

• as obras anunciadas (ainda em andamento) podem até minorar, aliviar, facilitar etc., mas logo se revelarão insuficientes e, mais um pouco, ineficientes;

• … mais um balaio de paliativos para contornar gargalos pontuais, localizados. E tudo isso no médio prazo. No longo, o inferno deverá se repetir ou piorar.

Valendo pra ontem e hoje

O resgate de tópicos da coluna de dois anos atrás serve para mostrar três coisas:

1) em João Pessoa, continuamos sem ações mais consequentes e respostas mais convincentes do poder público para atender à mobilidade urbana das pessoas, e não apenas de carros ou ônibus;

2) mobilidade urbana (inclui tarifas abusivas e falta de transparência nos seus reajustes) não é efeito, mas uma das principais causas da imensa insatisfação popular que explodiu nas presentes manifestações de rua;

3) as observações daquele artigo, dirigidos ao prefeito de antes, valem para o prefeito de agora.

Estou gostando de ver…

Outro tema abordado recorrentemente pelo colunista, a necessidade de investigar ou auditar planilhas que definem os reajustes das tarifas de ônibus, começa a ser vocalizado com assiduidade e intensidade por movimentos sociais, organizadores de protestos e até partidos políticos, incluindo o PT do prefeito Luciano Cartaxo.

Só estranho que o alcaide ainda não tenha se pronunciado sobre nem tomado qualquer providência naquela direção. Estranho também a indiferença do Ministério Público Estadual e do Tribunal de Contas do Estado (TCE), ao contrário do que ocorre com órgãos congêneres de outros estados e capitais onde já tem até CPI apurando se o povo vem pagando preço justo ou não para andar de ônibus.

CG: prefeitos ‘bonzinhos’

Membro do Fórum Popular Permanente de Transportes Públicos de Campina Grande, o Professor Sizenando Leal Cruz cuidou de analisar planilha de reajuste da tarifa de ônibus naquela cidade. Vejam só o que ele concluiu:

– Caro Rubens Nóbrega, estou enviando uma análise que fiz da planilha de transportes coletivos de Campina Grande. O Prefeito Romero Rodrigues, assim como os seus antecessores (Veneziano, Cozete, Cássio, Feliz Araújo e Ronaldo Cunha Lima) foram muito “bonzinhos” com os empresários e péssimos para o povo. Se você divulgar, o Sintrans e o Governo Romero irão tentar desqualificar essa análise, mas qualquer coisa nesse sentido estou disposto a demonstrar que o que tem acontecido tem sido verdadeiro roubo à economia popular.

Em mensagem à coluna, Sizenando introduz o assunto com o título “Passagem poderia ser um e oitenta e cinco ou dois reais” e o reforça com análise sobre planilha de custos que balizou o reajuste da tarifa local em janeiro de 2010.

Lamento não poder publicar nem abordar em maior extensão o texto elaborado pelo Professor, por conta do adiantado da hora em que dei fé da sua mensagem no meu i-meio. Mas não faltará oportunidade de retomar o assunto e de aproveitar sua valiosa contribuição a um debate que promete esquentar a busca pela verdade nas tarifas do transporte de massa na Paraíba.

De Cabedelo a Cajazeiras, como dizem lá na Rodoviária.