Dirceu, na Paraíba: “PT vai combater a corrupção”

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Nonato Guedes

Em agosto de 2001, quando era presidente do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores, o então deputado José Dirceu esteve em João Pessoa coordenando os preparativos para o Processo de Eleição Direta, que se constituía numa experiência inédita. Numa entrevista a Agnaldo Almeida, Luiz Carlos de Souza, Girlan Idelino e este repórter, publicada em página dupla no extinto jornal “O Norte”, com repercussão no também extinto jornal “Diário da Borborema”, de Campina Grande, Dirceu foi enfático: “O PT vai combater a corrupção porque a sociedade quer isso. Quer mais democracia e menos pobreza”. Também defendeu o financiamento público de campanha, a política de alianças como forma de assegurar a governabilidade e a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva a presidente da República. O partido já controlava governos de Estados influentes como o Rio Grande do Sul e cidades importantes, agindo como interlocutor de 30 milhões de brasileiros, o que levava Dirceu a constatar que se tratava de uma agremiação nacional popular e uma alternativa concreta de poder.

Já naquela época Dirceu preconizava a “democratização dos meios de comunicação”, que atualmente os adversários identificam como manobra para regular a mídia e controlar a difusão da informação, e uma reforma no Poder Judiciário, além do fim das coligações proporcionais e da figura do suplente de senador. O parlamentar que no governo Lula se tornou chefe da Casa Civil e acabou sendo defenestrado em meio a denúncias de articulação do chamado mensalão, propôs, na entrevista, a retomada da soberania econômica, com ampliação do mercado interno, distribuição de renda, geração de empregos, aplicação de recursos em obras de infraestrutura e na habitação, além de fortalecer a pequena e média empresa, a agroindústria, e avanço na reforma agrária. Falando sobre Lula, Dirceu pontuou: “Se tem alguém que se preparou para governar o Brasil, se tem alguém que conhece o país, sabe negociar o que é preciso e tem liderança popular, é Lula. Ele se preparou por dez anos para governar o Brasil”. Conforme ele, a coalizão que o partido defendia não era uma aliança parlamentar de centro-direita, mas muito ampla, englobando setores da sociedade.

Na passagem pela capital paraibana, Dirceu rebateu críticas de que a legenda não vinha cumprindo, nos Estados, os compromissos assumidos com o eleitorado no palanque. Citava como exemplos bem sucedidos os casos do Acre e do Mato Grosso do Sul, com reflexos, inclusive, na economia, mediante incremento da arrecadação e execução de projetos de desenvolvimento. Disse que no Rio Grande do Sul o governador Olívio Dutra reorganizou o sistema energético e investiu maciçamente na estrutura rodoviária, além de aplicar 10% na Saúde, “o que poucos Estados fazem”. Dirceu frisou mais: “Todo mundo sabe que quando o PT está no governo reorganiza as finanças, saneia a questão da corrupção e começa a reorganizar a máquina administrativa”. Ele não poupou críticas aos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Itamar Franco. “Nós temos uma proposta de outro modelo econômico, uma política que não é a do capital financeiro, especulativo, mas do capital produtivo”, acrescentou.

Dirceu anunciou que seria feito um esforço imenso para convencer a sociedade da necessidade de renovação do Congresso Nacional, e apostava no êxito do projeto, alegando que havia disposição de parcelas influentes da sociedade para fazer “uma limpeza no Parlamento”. O próprio Congresso, conforme ele, estava sendo obrigado a mudar em função da pressão popular. Mencionava como avanços a renúncia de Antônio Carlos Magalhães, “por covardia, porque ia ser cassado”, e a de José Roberto Arruda, mudanças no Código de Ética e mobilização para aprovação do fim das imunidades, incluindo-se aí o voto secreto, bem como a quebra do sigilo para agentes públicos, do Judiciário, do Legislativo e do Executivo. O ideal, para ele, seria a redução do mandato de senador para quatro anos (atualmente mantém-se o período de oito anos). “Nosso desejo é que a democracia seja participativa, que acabe o elitismo que existe, com o presidencialismo imperial, o monopólio de empresas de comunicação, os problemas no âmbito do Judiciário. A oposição tem um peso institucional grande no país, mas os meios de comunicação não dão espaço, principalmente a televisão. Não podemos permitir que o dinheiro corrompa a democracia brasileira e a medida mais urgente que se tem é o financiamento público de campanha”. De acordo com Dirceu, o sistema dominante em 2001 contribuía para a corrupção das emendas, a corrupção de controle de grupos econômicos, das empreiteiras, o desvio de recursos, o superfaturamento. Enfim, o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores alertava para a impossibilidade de celebração de alianças regionais e locais sem atrelamento ao apoio à candidatura de Lula a presidente da República. “No PT, isso é lei há algum tempo, dogma, o que não quer dizer que não possa haver um palanque que tenha dois candidatos a presidente da República”, ressaltou. No final da entrevista, respondendo a uma pergunta de Agnaldo Almeida sobre qual o candidato mais fácil de ser combatido, do ponto de vista do situacionismo, respondeu:

– Nenhum candidato do governo é fácil (de ser combatido). O governo tem a máquina, tem o poder econômico, tem grande parte da mídia, o apoio internacional, a maioria dos vereadores, prefeitos, deputados estaduais, federais, senadores, governadores. O governo tem muita força e subestimar o governo e achar que ele não vai para o segundo turno é um erro. Nós do PT nem acreditamos em pesquisa quantitativa agora, nem estamos de salto alto, nem achamos que ganhamos a eleição ou subestimamos o candidato do governo. Maluf teve 40% dos votos no segundo turno em São Paulo depois de tudo o que aconteceu no seu governo e no de Celso Pitta (ex-prefeito de São Paulo). Então, nós temos que ir devagar com o andor.