É justo pagar R$ 2,20?

Rubens Nóbrega

Os empresários que exploram as linhas de ônibus na Capital devem ser pessoas muito poderosas mesmo. Porque aqui, ao contrário do que acontece no resto do país, principalmente nas capitais e grandes cidades, ninguém ousa sequer questionar – muito menos auditar ou investigar – as planilhas de custo que definem as tarifas do transporte público de passageiros que seus concessionários tratam como um bem particular.

Parece até que se criou um consórcio de silêncio, omissão e indiferença entre autoridades, instituições e segmentos que poderiam cuidar de apurar se realmente é justo que o pessoense pague R$ 2,20 por uma passagem de ônibus. O prefeito Luciano Cartaxo, por exemplo, não dá um pio sobre o assunto, mesmo quando cobrado publicamente a fazê-lo, pelo menos por este colunista.

O Ministério Público, da mesma forma, não se pronuncia. O Tribunal de Contas do Estado (TCE), por sua vez, faz de conta que nada tem a ver com a parada. Na Câmara de Vereadores, nenhum membro – seja da super bancada governista ou algum mosqueteiro da oposição – parece interessado no assunto. E até os manifestantes que foram às ruas protestar contra preço e qualidade do busão nosso de cada dia mostram-se conformados com os míseros dez centavos a menos na tarifa, retirados pelo prefeito de carona na desoneração federal.

Não quero acreditar, como diria o Compadre Giú, que essa atitude de João sem Braço de quem pode fazer algo e nada faz tem a ver com generosas doações a campanhas eleitorais (e pós-campanha) supostamente feitas pelo empresariado do ramo. Que, se é generoso e doa muito, é porque sabe o quanto o negócio é bom, o quanto de retorno dá o investimento e por quanto amarraram concessões perpétuas para que jamais precisem se preocupar com possível concorrência. Afinal, nem pras novas linhas surgidas com o crescimento da cidade nos últimos 20 anos a Prefeitura de João Pessoa sequer esboçou o desejo de fazer uma licitação.
CPI em Sampa

Em São Paulo, Capital, por iniciativa da bancada do prefeito Fernando Haddad, que é do PT tanto quanto seu colega de João Pessoa, foi instaurada esta semana uma Comissão Parlamentar de Inquérito dos Transportes na Câmara Municipal. A CPI vai investigar, entre outras coisas, as planilhas de custo das empresas do setor. Também serão auditados os custos dos sistemas de metrô, trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e ônibus intermunicipais.
O pedido da CPI paulistana foi apresentado pelo vereador petista Paulo Fiorilo. Ele tem o apoio da administração municipal para passar um pente fino nos cálculos que os concessionários dos serviços fazem para definir as tarifas que querem. Mas não apenas. Serão avaliados ainda o desempenho operacional das empresas e a qualidade dos serviços prestados. Ou seja, lá vão fazer o que poderia ser feito cá, se houvesse compromisso e comprometimento de qualquer instância de poder com os usuários do sistema de transporte de massa. E só com os usuários.
Antivira-lata

Meu complexo de vira-lata sofreu duro golpe ontem quando li no Uol declarações de Marcelo Neri, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), sobre redução de desigualdade e aumento da renda dos brasileiros. Veja:
• “a renda dos 10% mais pobres no país cresceu 550% mais rápido do que a dos 10% mais ricos (…) a desigualdade no Brasil reduziu de maneira ‘muito forte’ nos últimos 12 anos”;
• “os brasileiros têm o maior índice de felicidade futura (projeção do que espera em cinco anos), segundo um levantamento feito em 160 países”;
• “os protestos no país não estão sendo realizados pelos mais pobres, que foram os mais beneficiados por essas mudanças”.
Onde está Lula

A quem anda perguntando – querendo fazer graça – onde está Lula, recomendo ler ou reler o que publicaram fontes insuspeitas, estritamente técnicas, feito o Ipea, sobre a mudança pra melhor que se fez na vida de no mínimo 80 milhões de brasileiros no último decênio. Se prestar bem atenção, se olhar bem direitinho, vai ver que o ex-presidente está exatamente por trás de todos os dados e números que atestam a motilidade social das camadas mais pobres da população e a inserção do Brasil entre as cinco maiores economias do planeta.
Pena ou prêmio?

Dois desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte – Osvaldo Soares Cruz e Rafael Gordeiro – foram ‘condenados’ anteontem pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Por irregularidades no pagamento de precatórios em um esquema que teria desviado quase R$ 20 milhões daquele TJ, os dois foram sentenciados ao pijama da aposentadoria compulsória, pena que poderão cumprir em casa, na rua, na praia, na Europa, nos Estados Unidos… Onde quiserem, enfim, com tudo o mais que pode pagar um salário mensal estimado em R$ 22 mil.