Desabafo e reflexão

Rubens Nóbrega

O texto adiante, após os asteriscos, faz parte do receituário político do médico Zé Mário Espínola. Ele cuida da importação de médicos e aplica uma esculachada no governo Dilma, tratamento que prescreve ainda a figurinhas antológicas e carimbadas da política brasileira. Vamos ao Doutor. Depois eu volto.
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Amigo Nóbrega, dê uma olhada no vídeo que me mandaram (depoimento de um deputado federal do Mato Grosso do Sul sobre a importação de médicos para o Brasil). Desconte os exageros, que não são muitos. A maioria é verdade. Você apoiaria jornalistas importados sem submetê-los a critérios de qualidade?

Esse governinho virou a antiga Arena, muito piorada. O caso do Afif Domingos, ao mesmo tempo vice-governador de São Paulo e ministro não-sei-de-quê, é um acinte, uma vergonha. Nem Sarney teve coragem de uma coisa dessas. Ridículo. Como ridículas são as defesas, com argumentos inverossímeis, que fazem Guido Mantega & Cia de uma economia combalida.

Envergonho-me do estímulo que a madame lá de cima faz para que o povão consuma cada vez mais. E se endivide, irresponsavelmente. Já está uma grande bolha, e vai estourar logo, logo. E olha que não está dando certo, pois o nosso crescimento é pífio e a inflação está ameaçando cada vez mais.

A Bolsa Família, sem contrapartida, virou esmola. Tem seu lado bom, como impulsor (?) da economia, tirando famílias da faixa da indigência. Criou, porém, um exército de mandriões. Veja a situação da agricultura do Nordeste, antes da atual seca: não se desenvolveu, entre outras causas, por falta de mão-de-obra para lavrar e colher.

Envergonho-me de saber que eu lutei, por pura ideologia, para ajudar a subir um governo que permite uma farra vergonhosa, como a da copa 2014, que pulverizou os investimentos para mitigar a sede do Nordeste.
Envergonho-me de assistir à transformação de um time de futebol, o Corinthians (o Flamengo do século XXI), num negócio bilionário e escuso, inconfessável e impublicável antes das 22h. Tornou-se O Eleito da CBF, da maior emissora e de empresários outros, em detrimento das demais agremiações do país.
Um governo que se une aos que são capazes de atitudes execráveis na política brasileira, como o bispo (?) Marcelo Crivella, Fernando Collor, Renan Calheiros, o já citado Sarney, Romero Jucá, Edison Lobão… Por onde andava essa turma, na época da ditadura? Desculpe, Rubens, mas, para meu sofrer, ainda conservo a capacidade de me indignar.
Um abraço de Zé Mário Espínola.
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O interior do Brasil precisa muito de médicos. Concordo com a importação. Criteriosa, lógico. Mas discordo de boa parte da avaliação do Doutor Zé Mário sobre o governo e da imagem que faz do Bolsa-Família. Porque não existe em todo o planeta programa mais bem sucedido em matéria de transferência condicionada de renda. Não à toa o BF foi copiado até aqui por mais de 40 outras nações. Afinal, zerou a fome de mais de 50 milhões de brasileiros pobres, zerando também o trabalho escravo antes imposto a quem hoje é chamado de preguiçoso porque hoje pode dizer não ao aluguel de sua força de trabalho a preço vil. Graças ao benefício que lhe garante o mínimo para alimentar a família em troca de manter filhos na escola e vacinados regularmente.

 

Reflexão de um ‘ET’
Escutei outro dia o seguinte comentário de um psicólogo que estava sendo entrevistado em um programa de TV: “A maior virtude de um ser humano é a sua capacidade de adaptação às circunstâncias mais adversas e agressivas”. Fiquei chocado, porque meu pensamento sobre a capacidade de adaptação humana é bastante diferente e mais relativo. “Adaptar-se às adversidades”, fazendo a tradução para a linguagem mais popular, seria “acostumar-se ao que não presta”. Para mim, esse é um dos piores defeitos do ser humano, em determinadas situações.
Se você estivesse a bordo de um avião que caiu no mar e conseguisse sobreviver como Tom Renkes no filme “O náufrago”, tendo de se habituar a comer qualquer tipo de coisa, construir seu abrigo contra a chuva e o sol, além de criar meios contra a solidão usando amigos imaginários, como uma bola de vôlei, tudo bem. Nesse caso não há opção; é adaptar-se ou morrer. Em certas ocasiões, porém, adaptar-se é ser fraco, não ter respeito pelo ser humano que se é. E são muitos os casos: uma mulher que apanha do marido que chega em casa embriagado e não denuncia, uma população que é governada por um político cujo lema é “rouba, mas faz”, um trabalhador que não tem sua carteira assinada por pura desonestidade de seu patrão que fica cada vez mais rico e fala: “E melhor do que nada”.
Não se acostumar, não aceitar certas coisas e tentar mudá-las é muito perigoso e pode até custar a própria vida. Tiradentes que não me deixa mentir. Mas será que a vida sem respeito, sem dignidade, sem direito de pensar diferente e defender o que se pensa é uma vida que vale a pena? A psicologia talvez não explique esse meu inconformismo. Para mim, os sapos não foram feitos para serem engolidos. Quem quiser ser adaptável ao que lhe avilta e desonra, que seja. Não estou disposto a isso. Se ser passivo e omisso é ser humano, não me incomodo. Sou um E.T.
(De Márcio Luís, Professor)
Protestem. Na paz

Que a justeza e a força do movimento contenham os vândalos e radicais e as manifestações de hoje na Paraíba e no resto do Brasil comecem e acabem em paz.