Rubens Nóbrega

O senador está de um jeito que não aguenta mais. Onde chega, aonde vai, há sempre alguém querendo saber da candidatura dele a governador ano que vem. E o pior: por mais que diga não, não adianta.
Jornalistas, populares, amigos, correligionários, até mesmo alguns parentes… Ninguém acredita. E por mais que tente esfriar o assunto, por mais que mantenha em suspense tanto aliados como adversários, o homem não tem sossego.

Pelo visto, até uma decisão pra valer ele receberá provas diárias de que não lhe deixarão em paz. Tal como aconteceu no final de semana, quando veio de Brasília prestigiar a abertura da maratona junina em sua cidade.

O cerco começou no ar. Começando pelo rapaz e a senhora que o ladearam no conjunto de poltronas onde os três se acomodaram dentro do avião: “E aí, governador, vamos que vamos?”, provocou o jovem do corredor, assim que o homem se aboletou.

– O amigo deve estar me confundindo com Marcondes Gadelha – respondeu o senador.
– Não, não. Meu pai é que votava em Marcondes. Vivia repetindo esse negócio de “vamos que vamos”. De tanto ouvir, acabei incorporando. E aí? Vamos que vamos?

– Vamos não, amigo. Mas não vamos mesmo! – disse o senador, tentando fechar a conversa e abrir uma revista que trazia na esperança de ler. Mas aí interveio a mulher do assento colado à janelinha. Ela preferiu se dirigir diretamente ao rapaz perguntador:

– Ô, meu filho, você acha mesmo que ele vai te dizer, é? Até parece…

O senador abriu um botão do paletó, afrouxou a gravata, pigarreou, olhou pro rapaz, depois pra senhora e suplicou: “Meu caros, será que a gente poderia adiar essa conversa, pois estou precisando imensamente dar um cochilo até a Paraíba”.

A vizinhança atendeu ao apelo. O senador fechou imediatamente os olhos e assim permaneceu até o avião tocar o solo paraibano. Não se sabe se ele realmente cochilou, mas valeu, de qualquer forma. A trégua durou até o desembarque, pelo menos.

– Boa sorte nas eleições ano que vem, governador – falou um comissário de bordo com sotaque ‘lá de nói’, no momento em que o senador cruzava a porta de saída da aeronave. Aí, ele parou, voltou-se para o dono da voz e esboçou uma explicação:

– Sou candidato não, amigo. Eu… Ah, quer saber? Deixe para lá! – disse, cuidando de descer os batentes da escada bem depressa e mais depressa ainda caminhou até a esteira de bagagens.

Só queria pegar a mala e sair logo dali, antes que mais alguém… Mal entrou no saguão, porém, um carregador de malas chegou junto:

– Deix’eu levar a sua mala, governador… Ói, mas primeiro deix’eu dizer uma coisa pro senhor: lá em casa são cinco votos, viu? E tudin vota no senhor!

“No sujeito que taí”

Sem força para convencer do contrário tão declarado eleitor, o senador limitou-se a dizer que não precisava ocupar outra pessoa além do dono com mala tão maneira. O cidadão não insistiu na oferta dos serviços, mas reforçou o oferecimento dos votos.

– E não é só lá em casa, não. Na minha rua não tem pra mais ninguém. Vai ser grande a lapada no sujeito que taí. Com a graça de Deus – complementou.

Nesse ponto, sob o impacto da referência ao “sujeito que taí”, o senador sentiu necessidade de ser mais enfático e convincente nos desmentidos, negativas e rechaços diante de quem insiste em perguntar por candidatura ou prometer voto.

Enquanto refletia sobre como proceder, seu motorista aproximou-se, tomou-lhe a bagagem de mão, o carrinho da mala e conduziu-o até o SUV estacionado na área reservada às autoridades.

No percurso, baixa um torpedo no celular do senador. Ele pega o aparelho, abre a mensagem e lê: “Tô indo pro PEN. Qualquer coisa, conte comigo”. Ainda pensou em responder, mas… “Depois eu falo com ele”, decidiu, já entrando no carro.

Bem perto de casa…

Quando se aproximou da entrada de sua granja, o senador levou um susto. Alguém pendurara entre um e outro poste de luz fincado na beira da estrada uma faixa enorme ‘com frase dizendo assim’: “O povo não perde por esperar. Ele vai voltar”.

O senador ligou para alguém a quem pediu para retirar imediatamente daquela faixa. Surpresa maior o aguardava dentro de casa, contudo. O visitante mais inesperado para aquela circunstância esperava há uma hora pelo senador no ‘escritório’.

A conversa entre os dois seria tão rápida quanto surpreendente, começando pela justificativa do interlocutor mais ansioso para estar ali, sem aviso prévio, meio que para pegar o outro desprevenido e botá-lo no canto da parede. Vejam como foi.

– E aí, beleza? Olha, cara, peguei o avião emprestado da mulher e vim aqui só pra ter uma conversa olho no olho contigo, que é pra acabar de vez com essa boataria toda. E peço a você que seja absolutamente sincero comigo, camarada, na resposta à pergunta que vou lhe fazer agora. Afinal, tu és ou não candidato?

– Já disse mil vezes que a minha intenção é manter a aliança. Mas, sabe como é… De qualquer modo, posso lhe garantir que decisão mesmo só em 2014. Mas fique tranquilo, fique frio. Do que for decidido, você será o primeiro a saber.

À noite, na abertura do São João, o senador se encontrou e se confraternizou com tudo quanto era aliado. Menos com aquele que será “o primeiro a saber” do que for decidido em 2014.