Bruno Filho
Eu não tenho nem o direito de escrever isso que escreverei agora, mas tenho o dever da fazê-lo. Para isso peço a permissão de Gutemberg e Thiago que sempre me deram liberdade para expor tudo aquilo que eu penso, sem nenhum tipo de restrição a qualquer que seja o assunto em foco. Este não é um assunto qualquer, é um ato de amizade,solidariedade e reconhecimento.
Dois anos se passaram desde que cheguei aqui em João Pessoa, e mais de um ano convivo diariamente com os meus amigos da CBN, emissora que me acolhe e concede seu espaço para que eu desenvolva meu trabalho de jornalista e radialista, coisa que faço e vai completar 40 anos no ano que vem. Dentre todos com quem me relaciono, alguns são especiais.
Um deles, e me permito citá-lo agora é Ronaldo Belarmino, um homem extremamente cativante pela sua educação e simpatia até juvenil com que trata seus amigos. Um homem que adora música, adora boas histórias e é afeito as coisas que possam beneficiar os amigos. Daquelas pessoas que nasceram para ajudar, e isso é para poucos,ou para quase ninguém.
Por esse motivo, Deus o agraciou 23 anos atrás com um presente especial, um garoto forte, simpático, engraçado e espirituoso demais que ele batizou como Arthur, em virtude de seu amor pelo grande idolo do Flamengo de todos os tempos. E assim foi passando o tempo, o menino crescendo e recebendo do pai os cuidados mais do que especiais que um pai poderia dar a um filho.
Assim que aqui cheguei fui apresentado a este menino espetacular e sabem o que foi que ele fez assim que me viu ? me deu um beijo, daqueles bem molhados sabem ? daqueles que só filhos podem dar…ora, eu estou longe dos meus, imaginem como recebi aquele beijo ! de lá a esta parte todas as vezes que nos vimos e não foram muitas o ato se repetiu, ora no rosto, ora nas mãos ou na testa.
Eu sou um extraordinário beijoqueiro…adoro receber e dar beijos porque tenho aquela criação italiana de que tudo pode se resolver com um beijo e que qualquer doença pode ser curada se voce tomar um banho quente ou uma sopa bem cheia de pedaços. Coisa de antigamente, mas me sinto bem assim. Como o assunto não sou eu, voltamos ao que interessa…
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Arthur está passando pelo pior momento de sua vida, e leva com ele o seu pai que tanto lhe ama. As lágrimas que estou derramando agora, são aquelas que Ronaldo gostaria de derramar mas não o fez em nenhum momento, pelo menos a frente dos outros e nos microfones. Ele se sustentou, embargando a voz mas não cedendo em momento nenhum.
Ao invés disso, ele preferiu pedir…durante duas semanas seguidas pediu e agradeceu ao sangue colhido que foi doado para o ato cirúrgico que será realizado. Em momento nenhum esqueceu uma pessoa sequer que o tenha ajudado,e fez mais, conseguiu sangue para muito mais pessoas do que para seu próprio filho. Este ato é para poucos, ou para quase ninguém.
Por isso, resolvi escrever, pois não pode passar em branco tudo aquilo que vivi nestes dias que antecedem o procedimento. Este homem não sabe exatamente o bem que ele está causando aos outros e nem tem idéia do exemplo que tranfere mesmo de forma desproposital as pessoas que o cercam. O amor que ele sente pelo seu filho, é o mesmo que voce ou eu sentimos pelos nossos, com uma diferença…
A diferença é que ele consegue através de seu caráter ser pai, amigo, professor,controlador, severo, amável e rigoroso tudo ao mesmo tempo, pois Arthur precisa deste controle. Nem tudo é maravilhoso e especial na vida de quem vive este dia a dia. Imaginem seu filho ter que ser conduzido a uma cirurgia sem ao menos imaginar o que estará suportando ?
Então, me dou ao direito de escrever com todas as letras sem medo de me enganar. Arthur ainda é o princípe dessa história, ele ainda não é o Rei, o Rei na verdade é seu pai, Ronaldo Belarmino, este sim é um Rei de princípios que olha para a meiguice de seu filho e sorri como se visse um bebê, mas ao mesmo tempo o trata como um homem, como a vida infelizmente exige.
Talvez isso não sirva para ninguém, mas certamente servirá para o Lucas e o Nicholas que são seus netos…e ao longo da vida saberão que o avô entre algumas das coisas boas que fez na vida, ensinou que nem tudo é “impedimento”, nem “fora de jogo” e nem “mesma linha”. Tem horas na vida, que mesmo voce estando um pouco “adiantado” voce não está impedido, voce está a frente de seu tempo.
Bruno Filho, jornalista, radialista e aprendiz de gente.
