O gênio de Alagoa Nova

Rubens Nóbrega

Se tivessem me avisado antes, teria sugerido há mais tempo a Dona Dilma a decretação de feriado nacional em homenagem a ele. Para ser comemorado todo 21 de junho, começando pelo próximo, data em que o homenageado completa 80 anos.

E se alguém aí acha que a minha chaleirice está indo longe demais, digo com toda a seriedade do mundo que acho pouco. Porque o homem merece, merece até mais do que feriado. Defendo, inclusive, que o feriado dele seja dia de santo.

Não por ele, que a canonização ainda vai demorar um bocado, mas a gente daria um jeito de puxar ou mudar pro 21 deste mês o Dia de São Luiz ou o Dia de um improvável São Gonzaga ou o Dia de um quase impossível São Rodrigues.

Evidente que de santo ele tem nada ou muito pouco, mas é capaz de obrar milagre. O milagre de, por exemplo, ter mudado a forma e o jeito de a Paraíba fazer jornal e jornalismo, algo que começou com ele lá pela primeira metade dos 60.

Num lugar onde as mudanças em qualquer setor ou atividade humana demoram séculos, ele deve ter feito aquilo em não mais do que um lustre, pelo que lembro das conversas a respeito que tive com o saudoso Pedro Moreira e outros mais contemporâneos dele do que eu.

O fim dos textos rebuscados

Reza a lenda que nas editorias por onde passou ele acabou primeiro com o texto gongórico que imperava nas redações. De escrita tão empolada e solene, nossos jornais mais pareciam um livro de atas ou de rebuscados expedientes trocados entre repartições públicas.
A partir dele, começamos a praticar um texto jornalístico mais objetivo, mais claro, compondo a notícia com frases onde as palavras passaram a ser dispostas na ordem direta, nos conformes da melhor sintaxe. Aprendemos com ele a botar sempre que possível o sujeito antes do verbo, o verbo antes de predicado, o predicado antes do complemento ou do adjunto…
É, amigo, e pensar que tudo isso veio de um cara que sequer terminou o antigo ginásio, ou seja, nem o ensino médio frequentou. Um cara assim só pode ser gênio, gênio da raça, dotado de tão prodigiosa inteligência que é capaz de assimilar e aplicar qualquer conhecimento. Um conhecimento, diga-se, adquirido nas muitas leituras que fez ou criado por ele próprio graças ao tanto de ciência e sapiência que acumulou.
Foi assim, muito por conta dele, do seu genial autodidatismo, que facilitamos a leitura, a compreensão dos nossos conteúdos e ganhamos os leitores que hoje migram em massa do impresso para o virtual, mas carregam na travessia um modo de apreender sentidos e internalizar significados que baixou por aqui há 60 anos.

Jornal mais limpo e arejado

Os seis decênios de minha referência correspondem, justamente, ao tempo de militância dele na imprensa, onde promoveu também o arejamento das edições dos jornais paraibanos. Até então, nossos diários – ou matutinos, como gostavam de chamar – apresentavam-se aos leitores com matérias distribuídas de forma compacta e confusa pela página, sem espaços mínimos que as apartassem uma das outras. Vista de longe por um míope feito este colunista, folha de jornal das antigas era uma mancha só.
Mirando na moderna diagramação dos jornalões do Sudeste, Jornal do Brasil à frente, que começavam a copiar de seus congêneres norte-americanos, no começo dos 60 também passamos a ordenar melhor as matérias, da esquerda para a direita e do alto ao pé da página, de acordo com a suposta importância de cada uma para o leitor.
Adotamos também o antetítulo (aquela palavra-enunciado que introduz o título da matéria) e o olhinho (frase que resume o texto da matéria). Aprendemos a aumentar os espaços em branco para descansar a vista do leitor, agraciando-o ainda com ilustrações que comportam da fotografia à charge, do traço à caricatura.
“São tantas coisinhas miúdas” que o público não percebe nem se dá conta, mas garanto que por conta delas temos hoje jornais mais legíveis, inteligíveis. E tudo isso devemos ao oitentão de logo mais, a quem o jornalismo e a cultura da Paraíba devem muito, inclusive o dever de lhe render as melhores e mais agradecidas homenagens.

Por tudo isso e muito mais…

O fã clube de Gonzaga Rodrigues, do qual sou presidente honorário, espera que os 80 anos do nosso cronista maior sejam comemorados à altura do aniversariante. Dos familiares aos amigos, da Academia Paraibana de Letras (APL) à Associação Paraibana de Imprensa (API), entidades das quais ele foi presidente, da Assembleia Legislativa à Câmara de Alagoa Nova, cidade natal de Gonzaga, a nenhum Poder ou instituição do nosso Estado será permitido deixar passar em branco os 80 anos do Neguin. Quem faltar vai ficar em falta, uma falta imperdoável, e será severamente cobrado por isso.

Um comercial do meu livro

‘Histórias da Gente’, livro de estreia do colunista lançado segunda-feira (3) em João Pessoa, já pode adquirido na Livraria Leitura, do Manaíra Shopping. No correr da semana, tentarei colocá-lo nas prateleiras e vitrines das demais livrarias da Capital.