Perfis parlamentares

Nonato Guedes

A Assembléia Legislativa de Pernambuco lançou segunda-feira última a segunda edição da coleção Perfil Parlamentar, que teve o primeiro número em 2001. Desta feita figuram as biografias de Francisco Julião (foto), líder das Ligas Camponesas, Agamenon Magalhães, ex-governador, David Capistrano, desaparecido político, Paulo Cavalcanti, parlamentar comunista, e outros 18 líderes políticos pernambucanos do século XX. Os autores são jornalistas ou escritores pernambucanos, como Raimundo Carrero e Homero Fonseca, e 22 volumes foram encaixotados em forma de kit para bibliotecas políticas, escolas da rede estadual, arquivos e entidades ligadas à preservação da memória.

Por dever de justiça, cabe informar que a Assembléia Legislativa da Paraíba foi pioneira nesse tipo de resgate. Em 1996, na gestão do presidente Carlos Dunga, foi impresso em “A União” o primeiro volume da Coleção Perfis Parlamentares sob o título “História & Debate na Assembléia da Paraíba”. Os autores dos ensaios também foram intelectuais de expressão e homens públicos versados no conhecimento da trajetória dos perfilados, como Aécio Villar de Aquino, Altamir Milanez, Cláudio Santa Cruz Costa, Deusdedit Leitão, Dorgival Terceiro Neto, Fátima Araújo, Flávio Sátyro Fernandes, Hélio Zenaide, Irene Rodrigues Fernandes, Joacil de Brito Pereira, José Octávio de Arruda Mello, Laura Helena Baracuhy Amorim, Pedro Moreno Gondim, Terezinha Pordeus e Wellington Aguiar.

Os primeiros perfilados nas monografias: Apolônio Zenaide, Tavares Cavalcanti, Isidro Gomes, Antônio Galdino Guedes, Botto de Meneses, José Marques da Silva Mariz, Odon Bezerra, Fernando Nóbrega, Ernani Sátyro, Osmar de Aquino, João Santa Cruz, Seráfico da Nóbrega, João Lélis e Miranda Freire. Os títulos que encimavam os registros visualizavam a índole dos perfis. Um, era qualificado como político operoso e de prestígio, outro como figura radiosa, um terceiro como homem público organizado e decidido. Sobre João Santa Cruz, a alusão destacada foi à sua condição de patriarca do comunismo na Paraíba, no alentado estudo que José Octávio assinou. Constavam dessa edição uma introdução versando sobre história, sociedade e vida no debate parlamentar, e anotações de Evandro Nóbrega sobre a trajetória da Assembléia desde os tempos das Assembléias Provinciais.

Na apresentação, Carlos Dunga classificava o Legislativo como pedra angular da democracia e justificava o resgate das vivências do passado como imprescindível para simbolizar melhor a atuação de um colégio que na maioria das vezes foi estuário da democracia em sua plenitude, tornando-se reprimido apenas nos períodos de arbítrio, onde não só discursos eram censurados como prerrogativas dos legislativos haviam sido abruptamente retiradas. A matriz norteadora da iniciativa oportuna foi a de mostrar que a Assembléia, de uma forma ou de outra, buscou estar em sintonia permanente com as aspirações populares. Carlos Dunga enxergava no resgate uma motivação de que o Poder carecia, numa hora em que a democracia cada vez mais se consolidava à custa da mobilização da sociedade. José Octávio, ao fazer um paralelo entre o Parlamento Nacional e a Assembléia estadual deixou claro que não era despropositada a comparação, lembrando que coube à Casa de Epitácio Pessoa escrever algumas páginas mais representativas da história da Paraíba.

A seqüência dos perfis estendeu-se, salvo melhor informação, até a gestão de Rômulo Gouveia, enfocando os que mais se destacaram, quer pelo nível intelectual que emprestaram às discussões, quer pela importância dos temas abordados, todos vinculados aos interesses e exigências da coletividade paraibana. Evandro Nóbrega situava que o livro tinha o objetivo de demonstrar que cada vez mais as bancadas partidárias com assento no Legislativo procuraram elevar o grau de sua conscientização política, de seu comportamento ético, de sua própria produtividade legiferante.

Faço essas observações e registros para saudar a iniciativa da Assembléia Legislativa de Pernambuco, realçar o pioneirismo do Legislativo paraibano e sugerir ao atual presidente Ricardo Marcelo que dê continuidade aos volumes já editados, abarcando outros personagens que não foram contemplados até agora e que nem por isso deixaram de contribuir para o engrandecimento da Assembléia e para a evolução da Paraíba. O resgate da memória é sempre bem vindo, sobretudo para conhecimento por parte das novas gerações que não vivenciaram essas fases épicas.