Governo sem coluna vertebral

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Amadeu Robson Cordeiro

No texto a “Grande Guerra”, o autor fala que “as noites são mais longas, mais longos são os dias”. A forma profunda e impactante como aborda os sentimentos, as preocupações e os comportamentos no início do conflito, despertou-me um paralelismo com a situação atual do tratamento do Rei com os servidores públicos. Não que haja qualquer identidade com a destruição, a morte e as feridas da guerra, mas pelo fato de que as noites de muitos passaram a ser longas, demasiadamente longas, assim como os dias, longos e vazios de esperança. A miséria está aí, à porta, não sob o aspecto da morte com foice a querer a cortar o fio da vida, é um governo de paletó e gravata, bem servido na Corte, tratando os servidores aflitos com atitude de agiota a extorqui-los em seus salários, obrigando-os a que se mantenham vivos durante o máximo de tempo, para em seguida desferir o golpe mortal: apoiá-lo na recondução do reino, sabendo da sua amnésia política. “Longa são as noites, mais longos são os dias”.

Longe corre os dias da alegria, da esperança, da tranqüilidade, do bem-estar, gentilmente oferecidos pelos príncipes do tudo, os que, sabendo navegar nas águas da enganação, usam, sem qualquer escrúpulo, incrédulos servidores, ansiosos de alcançarem o céu na terra, transformando-os em príncipes do nada. O que se retrata é que agora sofrem, e vão sofrer mais, porque as noites longas ainda se tornarão mais longas, mais penosas, mais negras e o descanso da alma irá desaparecendo a cada dia que passa, assim como passam a pensar no futuro dos filhos e durante o dia a percorrer longas distâncias na esperança do trabalho redentor e compensador.  E os dias? Para que servem os dias? Para taparem as longas noites de desespero que os esperam. Pobres, sem futuro, sem dignidade, tudo por causa de um Rei de onde a foice é mais dura e mais afiada do que a própria morte, porque ceifa esperanças. Entretanto, ele anda por aí, impune, arrogante, dono dos destinos, induzindo a morte e humilhando como se tivesse ganhado a guerra. “Que suas noites sejam longas e muito mais longos os dias, porque merece ser punido. Na crise que se firmou no Reino, muitos já se foram. Alguns com certeza declarou aos amigos mo auge do desespero: “que lhes seja dado ver a aurora da longa noite”. “Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes”.

Muito servidor anda impaciente e são cada vez mais os que afirmam: “as noites são mais longas e mais longos são os dias”….