Uma das mais gloriosas criações do campo cultural paraibano é, até hoje, a Orquestra Tabajara, de Severino Araújo. Surgida na primeira metade da década de 1930, em João Pessoa, teve como um de seus primeiros maestros, além de responsável pela sua criação, sob a denominação de Orquestra Jazz Tabajaras, o cônsul e empresário holandês, e saxofonista, Oliver von Sohsten. Aliás, sobre quem falamos na crônica anterior, quando abordamos a orquestra Batutas de Jaguaribe (ao que parece, extinta diante do surgimento da nova Jazz Band).
O principal maestro, no entanto, era o violinista e professor pessoense Olegário de Luna Freire, amigo de Von Sohsten. Severino Araújo, nascido em Limoeiro-PE, em 23 de abril de 1917, filho de pai músico e maestro em Ingá, tocava clarinete, com destaque, na Banda da Polícia Militar da Paraíba. A orquestra foi ganhando dimensão e, a partir de 1937, ano em que Araújo ingressou no grupo, passou a fazer parte do cast da Rádio Tabajara (Rádio Difusora da Paraíba PRI-4), criada naquele ano. Em 1938, Olegário faleceu de repente, e Severino, com apenas 21 anos, inicialmente reticente, assumiu a direção da Orquestra Tabajara.
Assim como a Batutas de Jaguaribe, a formação e inspiração da Tabajara tinham como fonte as famosas big bands norte-americanas da época, que faziam sucesso no mundo inteiro tocando jazz, ritmo originado nos recintos musicais dos negros da América do Norte. No entanto, a música executada pela Tabajara, e expressa em composições de Severino Araújo como “Espinha de Bacalhau”, feita ainda na fase paraibana, e outras, acabou misturando o jazz com o samba, o baião e o chorinho resultando em marca singular da orquestra, a lhe garantir brilho duradouro, tanto no plano nacional quanto no internacional.
Entre a criação e o ano de 1944, a Orquestra Tabajara pontificou em território paraibano. Época de enorme brilho dos auditórios de rádios, a emissora paraibana do mesmo nome tinha um auditório que recebia estrelas da constelação musical brasileira e que, em suas apresentações locais, eram acompanhadas pelos músicos comandados por Severino Araújo, também responsável por arranjos pontuais.
No retorno ao território onde praticamente residiam todos esses artistas, o Rio de Janeiro, cenário principal do país no que diz respeito à produção musical brasileira, as referências a produtores locais e dirigentes de emissoras, sobre a Jazz Tabajara, eram as mais entusiasmadas. Em 1945, Severino Araújo, a convite, resolveu fazer uma apresentação na poderosa e prestigiada Rádio Tupi, do Rio. Não voltou mais.
Em 20 de janeiro daquele ano, no programa A Noite do Frevo, com a presença do paraibano Assis Chateaubriand, dono da Tupi e de toda a rede de comunicação dos Diários Associados, a apresentação de Severino Araújo e seus músicos foi um sucesso. Em 1956, a Orquestra Tabajara foi considerada pela crítica a melhor orquestra do ano. Entre seus crooners famosos, destaque para Jamelão.
Agora deixe contar uma boa. Sabe a famosa orquestra Românticos de Cuba? Pois bem. Não era outra senão a Tabajara, atendendo convite da recém-inaugurada gravadora Musidisc. Como a Tabajara não podia aparecer nos créditos por conta de ter contrato com a gravadora Continental, inventaram a Românticos de Cuba, que fez enorme sucesso com rumbas e boleros em vários discos.
Severino Araújo faleceu em agosto de 2012. Hoje a Orquestra Tabajara é Patrimônio Imaterial da Paraíba e do Rio de Janeiro. Mas como considerou outro dia matéria do jornal Estado de São Paulo, a Orquestra Tabajara é um patrimônio brasileiro.
(Fotos relíquias. A primeira, datada de 1934, com cenário (Astrea, Clube dos Diários ou Labre) em discussão, postada por Matteo Ciacchi, no movimentado e atuante grupo Paraíba Fotos e Fatos Antigos, no Facebook, mostra a primeira formação da Orquestra Jazz Tabajaras. A segunda é da orquestra de Severino Araújo embarcando para uma apresentação em São Paulo, no ano de 1956, quando ganhou o título de Melhor Orquestra do Ano)
PS. Em função de necessitar de mais tempo para a reta final de novo livro (já anunciado), a partir de hoje apenas postarei novas crônicas da série Parahyba do Norte e suas Histórias às segundas, quartas e sextas. Depois, retomo o ritmo diário que mantenho desde 17 de julho de 2023.
Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba