A mais ilustre visita da década de 1930 à cidade de João Pessoa aconteceu em setembro de 1933. No dia 7 de setembro daquele ano chegou à capital paraibana o presidente Getúlio Vargas, grande líder do processo armado que resultou na derrubada da chamada República Velha e instalação da República Nova.
O motivo da presença de Getúlio na cidade foi a inauguração do Altar da Pátria, monumento grandioso na Praça João Pessoa (ex-Comendador Felizardo), em homenagem ao ex-presidente paraibano morto em 26 de julho de 1930, em Recife. Até já contamos a história. Em João Pessoa o chefe do governo ‘revolucionário’ foi alvo de inúmeras recepções e discursos e almoços e jantares enquanto aqui esteve.
Entre as festas organizadas para recepcionar a fulgurante criatura merecem destaque o almoço de 160 talheres, no dia 8, conforme anunciou A União do mesmo dia. À noite, um jantar dançante oferecido a Sua Excelência para o qual foi convidada apenas a nata da sociedade pessoense. No dia 9, A União noticiou a soirée destacando que dela participaram “as principais famílias e as figuras de maior projeção em nossa vida social”.
E um outro detalhe que importa à nossa abordagem de hoje: “tocou a jazz-band dos Batutas de Jaguaribe, que executou, sempre aplaudida, com a maestria de costume, as melhores peças do seu escolhido repertório”. Olha Jaguaribe sempre presente na história cultural de João Pessoa!
O maestro e criador dos Batutas de Jaguaribe atendia pelo nome de Oliver Von Sohsten, empresário e cônsul holandês, sendo um dos diretores da então Companhia Parahybana de Beneficiamento e Prensagem de Algodão. Oliver também foi responsável, ainda naquele ano de 1933, pela viabilização da famosa Orquestra Tabajara, da qual foi um dos primeiros maestros, por meio da doação de instrumentos musicais.
Mas também pela criação da Rádio Clube da Parahyba (da qual foi presidente), cerca de quatro anos antes de inaugurada a rádio Tabajara, cujos estatutos foram publicados em 30 de outubro de 1932. Sobre a Batutas de Jaguaribe, a orquestra fez muito sucesso em João Pessoa no início da década de 1930, abrilhantando as festas mais concorridas da cidade, aí incluídos o Carnaval e a tradicional e inigualável, naquela época e até início da década de 1980, Festa das Neves.
No concorridíssimo Pavilhão do Orfanato Dom Ulrico, na parte profana do novenário dedicado à padroeira da cidade, sempre que escalada, era a Jazz-Band Batutas de Jaguaribe a maior atração, mas também na tradicional Festa de Santo Antônio, no Largo de São Frei Pedro Gonçalves.
Em 1932, ainda, foram os Batutas de Jaguaribe, agora, em forma de bloco puxado pela orquestra, que promoveram uma inovação carnavalesca medonha, “introduzindo o ‘passo’ {leia-se o frevo} arrastando milhares de pessoas no som de marchas loucas da época”, conforme descrito por A União.
Depois disso, o frevo pegou de vez no carnaval pessoense, e em 1934 “dez mil pessoas, no som de uma dezena de boas orquestras, invadiram o centro da cidade, no requebro do ‘passo’, o que se constituiu um fato interessante na história do carnaval paraibano”, descreveu a edição de A União de 22 de junho de 1936. (Em 1935, Oliver desfilou à frente de um novo bloco, o Esquadrilha Azul, pelas ruas da cidade, no ritmo do frevo “defendendo uma onda entusiástica de foliões”, conforme a mesma edição de A União).
Quem disse que João Pessoa não tem tradição no carnaval de rua?! Cadê o frevo, meu povo?!
Fonte: Sergio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba