As igrejas caça-níquel que proliferam no país adotam comportamento que se pode chamar de “lesa-fé”. Não estou falando das igrejas sérias, como a Congregacional, as batistas, as presbiterianas, as metodistas, as luteranas, a Episcopal Anglicana do Brasil. Estou me referindo às denominações religiosas que exploram a humildade do povo necessitado, constrangendo membros a fazerem ofertas com promessas de prosperidade e garantindo soluções através de milagres, além de benesses materiais inseridos nas lógicas de consumo.
Promovem a espetacularização da dor alheia. Essas congregações neo-pentecostais surgiram a partir da década de 70, como dissidentes das igrejas cristãs tradicionais. Movimentos religiosos autoritários recentes têm sido movidos a ódio e elogiam as forças armadas e o capitalismo.
Praticam a “teologia da prosperidade” e têm forte presença nos meios de comunicação e na política partidária. Seus principais líderes ocupam espaços na cena política brasileira e atuam com pautas antidemocráticas, com discursos voltados para a intolerância religiosa, a cristianização do poder público por meio dos costumes e o fundamentalismo conservador.
Líderes religiosos neo-pentecostais integram em bom número a chamada bancada evangélica do parlamento brasileiro, participando ativamente da vida partidária nacional, alinhados ideologicamente com a direita. A explosão do neo-pentecostalismo no Brasil promoveu um engajamento político dos seus fiéis por orientação dos pastores integrantes dessas igrejas.
São, na verdade, empreendimentos religiosos que facilitam o enriquecimento pessoal de seus líderes que se tornam, inclusive, celebridades midiáticas e são eficientes na coleta monetária, impondo um estilo empresarial de produção e distribuição de bens religiosos. As arrecadações nos templos religiosos são cada vez mais explícitas. Dão ênfase à possibilidade de acesso a riquezas por via da fé. Seus fiéis assumem o papel de fãs.
O mercado religioso exige a inserção de profissionais habilitados na administração de Recursos Humanos e empresariais para a gestão de negócios e empreendimentos das igrejas. As construções discursivas no neopentecostalismo desvelam um universo religioso repleto de promessas e insistem que é possível encontrar e ter uma vida de pura felicidade.
A servidão voluntária observada no neopentecostalismo se afirma em busca de uma saída da condição humana de desamparo. A apropriação do espaço sagrado pelo neoliberalismo e mercantilização da religião. Doutrinada pelos pastores, os neopentecostais repetem até à exaustão a classificação de esquerdista e comunista a todas as pessoas e organizações que não alinhem nos seus princípios, teorias e objetivos. Tentam, a qualquer custo definir o caminho do poder, o caminho da interação político-partidária, transformando a ideologia em um artigo de confissão de fé.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Polêmica Paraíba